
Amor e obsessão encontram-se no mesmo ramo, contudo em extremos diferentes, estes dois sentimentos por vezes se confundem e a partir daí é difícil a sua identificação e separação, estes dois aspectos peculiares da raça humana encontram-se representados no romance literário de Vladimir Nabokov, sob a forma do corpo adolescente de Lolita, uma rapariga na flor da idade que gera motivo de atracção por parte do professor Humbert (James Manson), num conflito entre a sobriedade e a loucura carnal. Estamos a inícios dos anos 60 e matéria-prima como a já referida peça literária era motivo de repulsa por parte de Hollywood que conservava a sua gestão de “bons valores familiares”, é só lembrar das controvérsias que várias organizações mantinham com o material transposto por Billy Wilder nos seus filmes, conhecido por ser um realizador ousado, nota que dois anos depois da data do filme Lolita, Kiss Me, Stupid de Billy Wilder foi rejeitado pelo grande público com influência da Liga Católico-Romana da Decência que condenou a fita pela sua temática arrojada. Lolita foi dirigida por Stanley Kubrick, um dos nomes maiores do cinema internacional, num tempo em que dava nas vistas graças a Spartacus com Kirk Douglas como protagonista. Ao lidar com este erotismo pedófilo, Kubrick contornou a sua fita para outros enredos como por exemplo centrando-se destacavelmente na personagem camaleónica de Peter Sellers, que apresenta aqui uma “senhora” interpretação. Sue Lyon, com apenas 14 anos mas favorecidamente de aparência mais velha, é notável e bem honrosa no seu papel de Lolita, depositado todo o sex-appeal e ao mesmo tempo a inocência juvenil. Todavia o resultado de Lolita ficou muito aquém do esperado, tendo o realizador aclamado de não ter captado toda a essência da obra de Vladimir Nabokov, a verdade é que nesta obra, Kubrick não é ele próprio, toda a sua marca desvanece no tratamento de conteúdo tão polémico. Enquanto o realizador era distinguido pelos seus longos planos e pela sua perfeição técnica e visual, em Lolita a obra desenrolou como qualquer outro filme “made in Hollywood”, porém um dos bons. Sendo uma narrativa mais veloz e vivaça que as obras que antecederam e que sucederão, a película consegue-se assegurar graças a variadas tentativas de ousadia de Kubrick e pela magnificência dos desempenhos de Sellers e Lyon. E sabendo que o ser humano é capaz das mais vastas loucuras, Lolita continua a ser uma pérola da sétima arte e um inicio de que o cinema clássico não deve ser restrito aos bens familiares, perdida a inocência de Hollywood.
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