
Filme independente escocês confere dinâmica e força ao subgênero dos filmes de lobisomens
Por: Rodrigo Carreiro
Gostar de filme de lobisomen é coisa de fanático por longas-metragens de terror. Pense bem: quantos filmes que possuem essas criaturas no centro dos acontecimentos narrados podem ser considerados clássicos da sétima arte? Se você for rigoroso, nenhum, embora alguns queiram apontar o divertido “Um Lobisomem Americano em Londres” como tal. O fato é que esse subgênero do horror anda distante de Hollywood. O cinema independente da Grã-Bretanha, porém, gerou um exemplar interessante em 2002: “Cães de Caça” (Dog Soldiers, Inglaterra, 2002), produção de baixo orçamento de Neil Marshall.
Curto, grosso e com senso de humor demente, “Cães de Caça” fez uma carreira proveitosa em pequenos festivais e eventos cinematográficos dedicados ao gênero de horror, na Europa, vencendo uma famosa mostra em Bruxelas (Bélgica) e acabando por chamar a atenção dos fãs do gênero no mundo inteiro, inclusive nos EUA. Por causa dessa exposição, acabou chegando ao Brasil, aportando diretamente no mercado do vídeo caseiro.
O filme se apóia em um fiapo de trama para exibir criativos efeitos especiais à moda antiga, com muito uso de sangue de mentira e maquiagem tradicional na construção das criaturas fantásticas. Sim, criaturas; não estamos falando de um único lobisomem, como narram as tramas tradicionais desse tipo de filme. “Cães de Caça” segue o rumo oposto: ao invés de jogar um monstro dentro da cidade grande, leva um grupo de humanos ao habitat natural de uma família de licantropos, em plena noite de lua cheia.
Não são seres humanos comuns, contudo, e sim um pelotão de seis militares de uma unidade especial do Exército escocês. Os soldados estão em uma floresta numa região distante do país, participando de uma manobra secreta de treinamento militar, quando recebem um chamado de ajuda. Acabam encontrando um outro acampamento militar e, nele, apenas uma pessoa com vida: o capitão Richard Ryan (Liam Cunningham), seriamente ferido. Ele tem uma história fantástica a contar. Diz que o seu grupo foi atacado por lobisomens. O restante dos militares não tem muito tempo para duvidar do relato, pois logo as feras realizam um ataque-surpresa. A missão dos homens passa a ser simplesmente lutar pela sobrevivência.
O diretor Neil Marshall não parece muito chegado a sutilezas. Ele não tem em mãos um elenco especialmente habilidoso, e nem um enredo original, mas valoriza os elementos que possui, usando e abusando da câmera subjetiva para injetar tensão nas seqüências de perseguição (o recurso do ponto de vista do lobisomem é realmente usado à exaustão). Além disso, põe um senso de humor oportuno que confere dinâmica ao trabalho e impede o espectador de levar a trama muito a sério. Em certo momento, por exemplo, uma personagem dedilha a peça “Clair de Lune” (ou “Clarão da Lua”), do compositor francês Claude Debussy, ao piano (sim, existe piano numa floresta, e você vai entender quando vir a cena). Quem sacar a piada vai dar boas risadas.
Devido a esse estilo seco e dinâmico, a obra angariou fãs e adquiriu status cult junto aos admiradores do cinema de horror. O maior mérito de Neil Marshall foi ter caprichado na maquiagens dos lobisomens e, além disso, não ter cedido à tentação de apresentar a imagem da fera cedo demais. Assim, quando o filme atinge o clímax, o espectador ainda não cansou de ver os lobisomens em ação, o que é muito bom. O final do filme ainda reserva uma surpresa pouco comum ao gênero.
http://www.cinereporter.com.br/dvd/caes-de-caca/
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