quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Kung-Fu Futebol Clube

Comédia chinesa alucinada mistura futebol e artes marciais em filme criativo e cheio de idéias
Por: Rodrigo Carreiro

Junte em um caldeirão influências díspares como filmes de Bruce Lee, faroestes spaghetti, Pelé, jogos de fliperama e/ou Playstation, comédia adolescente norte-americanas e efeitos especiais criados com computadores caseiros. Imaginou o resultado? Pois é provável que a salada resultante na sua cabeça seja bem diferente de “Kung Fu Futebol Clube” (Shaolin Soccer, Hong Kong/China, 2001), a estridente brincadeira de Stephen Chow que lançou o cineasta chinês nos Estados Unidos e tornou-se coqueluche entre jovens cinéfilos descolados. O filme pode ser encontrado em um pouco divulgado DVD nacional da distribuidora Buena Vista.
É engraçada e incomum a maneira como a comédia adolescente chinês, co-produzido em Hong Kong, chegou às terras brasileiras. O longa-metragem foi vendido para a distribuidora norte-americana Miramax dentro de um pacote que incluía, entre outros, o épico “
Herói”. Os filmes faziam parte de um lote de obras recomendadas pelo diretor Quentin Tarantino aos irmãos Bob e Harvey Weinstein, donos da Miramax. Alguns filmes, como o citado “Herói”, tiveram lançamento de respeito nos EUA. Outros, como “Kung Fu Futebol Clube”, foram atrasados em muitos meses, e até reeditados, para poderem agradar às platéias ocidentais.
É compreensível que “Kung Fu Futebol Clube” tenha soado como uma piada exótica para o espectador médio norte-americano, já que o escopo da trama é fincado em uma combinação de esportes pouco comuns no país dos ianques: futebol e artes marciais. Se o público dos EUA curte pancadaria oriental (desde que devidamente “ocidentalizada”, o que significa coreografias mais realistas e discretas, o que não é o caso deste filme fantasioso), não entende nada de futebol. Pois jogue no lixo toda e qualquer tentativa de dar ao filme uma aparência de realidade comum, e você terá nas mãos um produto no mínimo bizarro.
A trama é clássica, do tipo que você já viu muitas vezes antes. Técnico decadente de futebol (Man Tat Ng) monta, com a ajuda de um jovem mendigo praticante de um estilo decadente de kung fu (o diretor e roteirista Chow), um time de futebol formado por lutadores que sobrevivem em subempregos. Os atletas aplicam ao jogo princípios da luta, transformando-o em um esporte completamente diferente, onde pulos de cinco metros de altura, cambalhotas impossíveis e chutes que entortam e derrubam traves são comuns. Dessa forma, entram em um torneio internacional cujo patrocinador é o arqui-rival do técnico (Yin Tse), um sujeito rico, arrogante e trapaceiro. No meio da confusão há até espaço para o jogador-mendigo arrumar uma paquera com uma timida garota operária que faz pão, numa venda no meio da rua, usando, também, uma técnica de kung fu.
Estranho? Pois espere até ver o filme. Embalado por uma trilha sonora épica surrupiada dos antigos faroestes italianos, “Kung Fu Futebol Clube” é criativo até a medula, mas extremamente exagerado, mais ou menos como se os personagens de “Jaspion” resolvessem chutar bolas com pernas mecânicas de velocidade supersônica. O futebol praticado no filme, obviamente, é um arremedo de esporte que serve apenas como veículo para malabarismos impossíveis, como os inacreditáveis chutes desferidos pelo proagonista e capitão do time. Basta dizer que, no primeiro tiro que experimenta, com uma lata de cerveja, o rapaz manda o objeto do outro lado da cidade (e a latinha ainda destroça um muro!). Isso é só o começo.
As seqüências de futebol são deliciosas, um verdadeiro espetáculo de humor campy, exagerado, com uso brilhante de computação gráfica (perceba que a bola quase nunca é de verdade, e sim gerada por computador) e um verdadeiro show de edição do desconhecido Kit-Wai Kai. Não dá para levar a sério um filme em que a mocinha conquista o protagonista com um par de tênis furados, remendados com pedaços de pano com a estampa da Hello Kitty, mas “Kung Fu Futebol Clube” não foi feito mesmo para ser levado a sério. A segunda metade da produção – especialmente depois que o time dos futi-ninjas entra em ação de verdade, dentro do torneio – é alucinada e alucinante, mostrando que as artes marciais podem, quando bem utilizadas, funcionar de modo exemplar dentro de qualquer gênero cinematográfico, inclusive a comédia.

http://www.cinereporter.com.br/dvd/kung-fu-futebol-clube/

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