sábado, 28 de novembro de 2009

A Vida Até Parece Uma Festa

Documentário feito para os fãs celebra um quarto de século de carreira
Marcelo Hessel/Omelete
Se você dissesse a um conhecedor de música pop que no Brasil um octeto roqueiro com cinco vocalistas conseguiu sobreviver quase dez anos e seis álbuns sem se dissolver, ele perguntaria como operou-se tal milagre. É o mistério que atravessa todo Titãs - A Vida Até Parece uma Festa (2008), e do qual, em alguns momentos, o documentário não consegue se esquivar.
A princípio os figurinos combinam. Em 1984 estavam no auge da moda os ternos curtos que mostravam a meia branca e o sapato preto - código do ska two tone inglês, de cujos sons titânicos por excelência, no disco de estréia, são "Sonífera Ilha" e a versão aportuguesada de "The Harder They Come" (que no Acústico de 1997 já tem velocidade desacelerada de reggae). Do bicolor aos ternos coloridos da New Wave foi um passo.
Mas fora das apresentações televisivas no Chacrinha, no Clube do Bolinha ou no Perdidos na Noite, todos os oito sempre no mesmo tom, frequentemente alinhados lado a lado, já dava pra notar os indivíduos: Tony Bellotto de jaqueta punk, Sérgio Brito fiel aos ternos, Arnaldo Antunes arriscando um penteado sem influência aparente... Na música, a banda ia da poesia concreta de "Cabeça Dinossauro" à crônica de "Família" ao gosto pelo choque de "Bichos Escrotos".
Como sabemos - e seria omissão se o filme dirigido por Oscar Rodrigues Alves e pelo vocalista Branco Mello deixasse de mencionar - os Titãs não conseguiram preservar a unidade depois de 1992. O que há de mais interessante no documentário (que tem material filmado caseiramente por Mello desde 1986 e depois por Alves, profissionalmente, a partir de 2002) é a forma como os remanescentes absorvem o impacto.
Porque, como diz Branco Mello num momento, eles são uma família: brigam mas permanecem unidos. O filme trata, literalmente, a vida como uma grande turnê e a estrada como festa. Celebra os Titãs como uma instituição e deixa-se conduzir por sua música sem narrativa em off (a explicação do caso da prisão por porte de heroína, por exemplo, se resume ao manifesto de "Polícia"). É um documentário para os fãs, acima de tudo.
E quando a câmera capta um ruído, como a cara amarrada de Nando Reis na votação que elegerá a lista de faixas de A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana, o momento emerge como raridade. É compreensível que o documentário ganhe instantes assim com a chegada de Alves; quando filmava o atrito entre Charles Gavin e o produtor Liminha numa gravação, por exemplo, a câmera de Branco Mello tentava "escapar" do close-up do baterista, meio com vergonha de constranger seus pares.
Então não espere, evidentemente, um Some Kind of Monster, o documentário-terapia do Metallica. No fundo o Titãs talvez nem tenha tantas arestas para aparar. Arnaldo Antunes quase cai da cadeira de animação ao se reunir com a banda...
Há um momento que talvez seja a resposta para o mistério da longevidade, o videoclipe de "Cabeça Dinossauro" na Chapada dos Guimarães. Ali, enfileirados, cada um dos oito aguarda a sua vez de se expor para a câmera, e quando juntos parecem um só. Há um senso de unidade que vem da performance, e o segredo do sucesso do octeto talvez esteja justamente nessa aglutinação.


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