terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Akira


DVD impecável realça qualidades de precursos fundamental da animação japonesa realista
Por: Rodrigo Carreiro

A cultura cinematográfica japonesa é interessante, e intrigante até, porque foi desenvolvida em paralelo com o cinema ocidental. Ao contrário do que ocorreu em quase todos os outros lugares do mundo, o modo norte-americano de fazer filmes passou não apenas a influenciar, mas, a partir de certo momento, a ser influenciado pelo cinema japonês. Se a gente tentar retroceder até o momento em que os filmes asiáticos passaram a ser observados com atenção dentro dos EUA, é provável que esse momento seja o lançamento de “Akira” (Japão, 1988). Qualquer fã de mangas (as gibis japonesas) ou animes (animações do país do Sol Nascente) sabe disso.
Quem não tem fluência no mercado de animações japonesas não pode entender muito bem esse fenômeno, mas ele é relativamente simples. O cineasta Katsuhiro Otomo foi ousado e ambicioso quando decidiu, em 1988, transformar a clássica série “Akira” em um filme de longa-metragem. Estamos falando de uma série de quadrinhos dividida em seis grandes volumes, com um total de páginas superior a 2,1 mil. Ele trabalhou por pelo menos dois anos no projeto e chegou a um resultado final que, quando lançado, deixou o mundo da animação de queixo caído. Simples: “Akira” utilizou técnicas revolucionárias, incluindo técnicas de animação digital pré-históricas, para alcançar um grau de realismo que jamais havia sido tentado antes.
A história, em si, não é tão impressionante quando analisada sob a luz do século XXI, mas mexia profundamente com o principal temor da humanidade, na época da produção da série: uma guerra nuclear. O apocalipse atômico vira realidade em “Akira”, um filme passado em 2.030, em Neo-Tóquio. O prólogo da animação expõe, à maneira enigmática da narrativa japonesa, o cenário em que a aventura vai se desenrolar. Tóquio foi destruída, como grande parte da humanidade, por uma guerra atômica 30 anos antes. Foi depois reconstruída, e o mundo que emergiu daí foi um mundo decadente, cheio de políticos corruptos, policiais violentos e gangues de rua.
O personagem principal é Tetsuo. O rapaz é integrante de uma dessas gangues, e anda em uma moto possante pelas ruas de Neo-Tóquio, até que um dia atropela uma criança que tem, aparentemente, poderes paranormais. Na seqüência, Tetsuo é capturado por uma unidade ultra-secreta do Exército japonês, e descobre que pode ser, ele mesmo, uma arma letal, pois parece possuir uma força mental além de qualquer explicação.
O filme é muito interessante. A combinação de visual refinado, animação complexa, personagens multidimensionais e cenas de ação consistentes resulta em um filme forte, violento, adulto e inteligente. “Akira” tem o valor várias vezes aumentado por ter tido a coragem de elevar o nível intelectual do gênero, o que gerou depois obras de valor notável, como “O Fantasma do Futuro” (outro filme que mira um futuro apocalíptico e tem pano de fundo filosófico-espiritual), e é influência essencial para explicar obras como “Casshern”, ficção futurista japonesa que transporta para um mundo cibernético de carne e osso a saga épica de autodescoberta de um
herói. Isso para não falar que há muitos elementos de “Akira” na saga “Matrix”, dos irmãos Wachowski.

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