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Animação baseada em ícone dos quadrinhos de Fontanarrosa mistura noir, guerra e faroeste
Marcelo Hessel/Omelete
Falecido em 2007, o quadrinista e cartunista argentino Roberto Fontanarrosa ganha este ano uma homenagem em forma de animação: o longa-metragem, dirigido por Gustavo Cova, baseado em um dos seus personagens mais conhecidos, Boogie, el Aceitoso.
O oleoso Boogie é uma mistura de dois tipos consagrados da cultura pop dos EUA: o detetive de noir, sempre com cigarro na boca, e o veterano desumanizado pela guerra, sempre disposto a um massacre. No filme, Boogie aceita um contrato para matar a testemunha que pode levar um mafioso para a prisão. Acontece que a testemunha tem belas curvas e seios recém-implantados e, pior, os mafiosos contratam outro matador para competir com Boogie.
O paralelo imediato, de personagens e de visual estilizado, é com Sin City - Boogie seria Marv, com seu queixo quadrado, e o matador rival, adepto de armas brancas, seria o ligeiro Kevin - mas há citações literais de Apocalypse Now, uma piscadela para o Philip Marlowe em Até a Vista, Querida (na cena em que Boogie perde os sentidos), referências visuais de faroeste...
Mas ainda que o modelo seja estrangeiro, o filme insere ali um contexto latinoamericano, característico das obras de Fontanarrosa nos anos 70 e 80. É breve, mas não passa despercebido. Boogie mais de uma vez está conversando com o chefe de polícia, por exemplo, e surge um pivete pedindo comida ou dinheiro. O protagonista diz com todas as letras: "Faço parte da comunidade racista que odeia pobres". Em outro momento, diz que "a violência surge porque sempre tem alguém querendo roubar a comida dos outros".
Boogie é o típico misantropo que atira primeiro e pergunta depois, mas sua ranhetice é mais destacada do que em noirs normais. Quando a narrativa pediria um tempo fraco, entre um tiroteio e outro, a situação clássica do herói que descansa no hotel de estrada com a testemunha (desacelerar a ação e deixá-lo sozinho com seus pensamentos é um perigo, ele pode até se apaixonar), o roteiro de Marcelo Paez Cubells insere outro comentário de violência (o velho na lanchonete, a mulher contra cigarros). Não há descanso para seres atormentados como Boogie, é a mensagem.
Formalmente, o filme não é nenhum primor - o jogo de luzes e sombras tenta compensar a animação limitada, de fundos fixos e computação gráfica pobre - mas vale a pena por essa apropriação de fórmulas hollywoodianas para uso local.
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