terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Katyn


Se é certo que todos os países sofreram com a Segunda Guerra Mundial, também é que a Polônia guarda uma grande carga de prejuízo. Em agosto de 1939, foi invadida pelos nazistas. No mês seguinte, pelos soviéticos, que não declararam formalmente guerra à Polônia. Cerca de 500 mil pessoas foram deportadas para a Sibéria durante a guerra. Após 1945, o país foi dominado pela União Soviética, situação que permaneceu até a queda do muro de Berlim, em 1989. Katyn , de Andrzej Wajda, pousa sua atenção sobre uma falsa verdade histórica, cuja aberração já é prenunciada no início do filme. O longa começa com o Pacto Molotov-Ribbentrop, entre alemães e russos, que na guerra viriam a se tornar adversários. O jovem oficial Andrzej (Artur Zmijewski), apesar dos pedidos de sua esposa Anna (Maja Ostaszewska), permanece, no caos da situação, ao lado dos companheiros de exército, classificados como prisioneiros de guerra. Os oficiais são mantidos presos e com o tempo são levados para a floresta de Katyn, onde foram executados cerca de 20 mil oficiais polacos. Como a Polônia foi anexada aos soviéticos no pós-guerra e os alemães saíram derrotados, a culpa do massacre recaiu sobre os nazistas, apesar de Stalin ter sido, de fato, o mentor dos assassinatos. O longa de Wadja parte da história do oficial Andrzej, que anotou o cotidiano da prisão em um diário, para falar sobre os resistentes à mentira histórica de que os alemães, e não os soviéticos, foram responsáveis pelo massacre. Sem tons aventureiros, Katyn , indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2008, mostra duas possibilidades de resistir. Seja por meio da ação direta, que pode ter como conseqüência a morte (caso de dois jovens), ou por meio da preservação dos arquivos dos mortos, realizada por pesquisadores, Wadja se posiciona em relação ao fato e presta uma homenagem a quem não aceitou a mentira. A posição de Wadja, inclusive, pode gerar polêmica, pois é possível defender que seria melhor manter-se vivo, mesmo que admitindo algo sabidamente infundado. Debate aberto. A abordagem apaixonada de Andrzej Wadja justifica-se pela sua própria biografia. Seu pai, Jakub Wadja, foi um dos oficiais executados em Katyn e sua mãe, Aniela, foi uma das mulheres que esperaram pelos maridos – exatamente o ponto de vista narrativo do filme. Com capacidade de se comunicar a quem se interessa pela construção da História, Katyn toma dimensões maiores ainda quando dialoga com quem foi vítima dos acontecimentos. Deve ser um efeito parecido para um judeu assistindo a The Last Days , de James Moll, ou a um descendente indígena frente ao western Quando é Preciso Ser Homem , de Ralph Nelson.

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