segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Os Fantasmas se Divertem


Anotação em 2008: Não sei como as pessoas classificam o estilo de Tim Burton, mas o que me ocorreu, logo depois de ver Beetlejuice pela primeira vez, numa sessão da tarde, 20 anos depois que o filme foi feito, é que o visual dele é surreal-psicodélico-gótico.
Pensei também que muito do sensacional visual dos dois MIBs, os Homens de Preto, vem deste filme aqui.
A história é uma imensa e deliciosa bobagem. Um jovem casal feliz, Adam e Barbara (Geena Davis e Alec Baldwin, jovens demais, com caras de bebês), sai de sua casinha feliz de carro para fazer compras na loja da pequeníssima cidadezinha em que vivem, em Connecticut, e na volta, para não atropelar um cachorro, cai no rio e morre.
Adam e Barbara reaparecem na sua casinha feliz para constatar o inevitável: sim, estão mortos. E pouco depois chega à casa deles uma família que acabou de comprar o imóvel; a família é absolutamente disfuncional, desagradável e doida: a mulher (Catherine O’Hara) se acha uma grande artista plástica, e a filha do marido, enteada da mulher, é uma adolescente dark, gótica, melancólica, entediadíssima, que pensa na morte quase todo o tempo – um papel perfeito para o talento de Winona Ryder, essa atriz extraordinária que já era ótima aos 17 anos.
A madrasta quer reformar inteiramente a casa – e o casal de mortos fará de tudo para assombrar, assustar, botar a família para correr. Sem qualquer sucesso.
O que importa é o visual fantástico, fascinante. Tim Burton cria figuras e ambientes absolutamente monstruosos, malucos, brilhantes, como a repartição pública onde os mortos vão pedir ajuda e assistência social. A mulher que vai cuidar do jovem casal, Juno (Sylvia Sidney), fuma e a fumaça sai por um gigantesco corte no pescoço dela. Uma mulher que espera sua vez tem o corpo dividido ao meio; alguns mortos têm o rosto do tamanho de uma bola de tênis. São dezenas, dezenas de criaturas com visual louquíssimo. Um corredor é completamente torto, exatamente como se tivesse saído de um quadro de Salvador Dalí, como Mary observou na hora.
É um visual que torna o de Poltergeist fichinha, brincadeira de criança.
E o personagem título, o Beetlejuice de Michael Keaton – um bio-exorcista, como ele mesmo se define – é um dos fantasmas mais pirados, mais doidos que já passaram pela tela.
Mas é Winona que rouba totalmente a cena, como a única viva que, por pensar tanto na morte, consegue ver os mortos Adam e Barbara, e se comunicar com eles. Winona dançando no ar e dublando Harry Belafonte em Jump in the Line (Shake, Shake, Señora), é espetacular.
(Aliás, o filme tem umas três ou quatro músicas de Belafonte, da época do calipso.)
Ah, sim: Mary reparou uma coisa ótima. A trama básica do filme – aqui levada no escracho, na brincadeira – é bem parecida com a de Os Outros/The Others, de Alejandro Amenábar, de 2001, um dos melhores, mais apavorantes filmes de terror que eu já vi.
Vou agora aos alfarrábios.
Foi o segundo longa-metragem dirigido por Tim Burton, depois de As Grandes Aventuras de Pee Wee/Pee Wee’s Big Adventure; em seguida ele faria Edward Mãos de Tesoura/Edward Scissorshands, também com a maravilhosa Winona, e depois os dois Batmans, de 1989 e 1992.
Foi o terceiro filme da carreira de Winona. Geena Davis havia estreado em
Tootsie, em 1982, e nos seis anos até este filme fez vários episódios de séries de TV e o papel feminino central da refilmagem de A Mosca/The Fly, de 1986.
O filme ganhou o Oscar de maquiagem – e o trabalho de maquiagem realmente é impressionante. Teve outros seis prêmios e oito indicações.

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