terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O Chamado


Refilmagem de filme japonês sobre fita de vídeo amaldiçoada mostra direção segura e imagens inquietantes
Por: Rodrigo Carreiro

Lendas urbanas têm fornecido muito material para filmes de horror que miram em um público adolescente. “O Chamado” (The Ring, EUA, 2002) bebe da mesma fonte, mas acerta o alvo sobretudo porque investe num tom mais sério, mais assustador, que evita a paródia como o diabo foge da cruz. O longa-metragem de Gore Verbinski consegue manipular muito bem os clichês do gênero e imprime um clima sinistro ao enredo, com sustos bem dosados, interpretações convincentes e pelo menos dois grandes momentos de congelar a espinha de qualquer espectador incauto.
“O Chamado” poderia ser descrito como um cruzamento de “O Dom da Premonição”, de
Sam Raimi, com a série “Lenda Urbana”. A base do sucesso que atingiu (mais de US$ 100 milhões nos EUA) está no argumento simples, organizado em torno de um desses boatos que se espalham pelas grandes cidades, na base do boca-a-boca. Nesse caso, o mistério gira em torno de uma fita de vídeo. Todas as pessoas que assistem ao conteúdo dessa fita recebem em seguida um telefonema de duas palavras: “sete dias”. Exatamente uma semana depois, os espectadores da tal fita morrem, quase sempre em condições misteriosas e inexplicadas.
A jornalista Rachel Keller (Naomi Watts, comprovando depois de “
Cidade dos Sonhos” que é mesmo boa atriz) não acredita na lenda, mas começa a investigá-la a pedido da irmã, cuja filha morreu depois de ver a fita. Ela assiste às imagens, recebe o tal telefonema e corre contra o tempo para descobrir uma maneira de evitar a própria morte. A medida que os dias passam, Rachel (e o espectador) vai ficando mais convencida de que existe algum elemento sobrenatural por trás das mortes. As investigações a obrigam a juntar as peças de um quebra-cabeças que inclui uma ilha deserta, um farol, cavalos, uma triste senhora de olhar penetrante e cabelos longos, e uma garotinha assustadora.
Todos esses elementos aparecem nas perturbadoras imagens da fita. O vídeo proibido é a melhor coisa do filme. São imagens lúgubres e intrigantes; ligadas a elas estão quase todas as boas seqüências. O filme acompanha a investigação desesperada de Rachel, que corre contra o tempo para tentar descobrir o mistério da fita e evitar a própria morte. É uma típica história de detetive, acrescida ainda de uma criança misteriosa, o filho de Rachel (David Dorfman, referência óbvia a “O Sexto Sentido”). O filme abusa de truques inteligentes e provoca sustos previsíveis, mas eficientes. Quando um personagem abre um espelho de banheiro, quem não espera tomar um susto quando ele o fechar? Isso também ocorre aqui.
Contando com uma reviravolta final muito inteligente, “O Chamado” consegue soar inquietante, graças à direção segura de Gore Verbinski (“Piratas do Caribe”). O roteiro só desperdiça a chance de explorar melhor a personagem de Rachel (imagine ter que desvendar um mistério complicadíssimo para evitar a própria morte, correndo contra o relógio, e fazer isso com a naturalidade de quem toma um banho).
Há, também, algumas situações mal explicadas, como uma óbvia conexão sobrenatural envolvendo o filho da jornalista. Resumindo, um filme eficiente, mas não brilhante. Tudo isso vem, no DVD nacional da Universal (imagem wide anamórfica, som Dolby Digital 5.1), acompanhado do vídeo misterioso (que pode ser assistido independentemente do longa) e mais uma montagem de cenas do filme, espécie de trailer gigante. Não assista antes do filme, para não perder a graça.

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