sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Lake Tahoe


O segundo filme do diretor de Temporada de Patos segue assistindo ao amadurecimento juvenil
Marcelo Hessel/Omelete
Se você assiste à
OmeleTV, deve saber que falamos no programa 48 de Temporada de Patos, filme mexicano querido na Cozinha. Falamos também da expectativa pelo novo trabalho do diretor Fernando Eimbcke, Lake Tahoe (2008). E ele não decepciona. O curioso é que há uma progressão entre o primeiro e o segundo longa do diretor - e não só pelo fato do jovem ator Diego Cataño, hoje com 19 anos, ter crescido bastante de um para outro.
Se Temporada de Patos era o típico conto de formação, de princípio de passagem da adolescência para a vida adulta, então Lake Tahoe completa esse ciclo que havia começado em 2004. Juan (Cataño) já entra em cena batendo o carro. Estamos em Progreso, na península de Yucatán, uma cidade litorânea (de veraneio, talvez), e Juan precisa de um mecânico. Ele passa boa parte do filme tentando arrumar um chicote do distribuidor, uma peça para o motor.
No meio-tempo, Juan conhece uma menina roqueira, um velho com seu cão, um fã de kung fu - e encontra vários familiares e amigos que perguntam o tempo inteiro se Juan está bem. O grande mistério de Lake Tahoe é descobrir o porquê dessa pergunta, já que os familiares e amigos não sabem do acidente do carro.
Houve, evidentemente, um evento marcante no passado que Eimbcke suprime, e esse suspense é o fio da narração, o ponto de interesse, em um filme cuja ação é essencialmente contemplativa. O diretor usa o formato scope, mais horizontalizado, para uma mise-en-scéne que emula o proscênio teatral. Juan atravessa a tela da direita para a esquerda, da esquerda para a direita, em planos quase sempre de câmera estática. É como se o personagem vagasse no nosso campo de visão sem nos "procurar", sem nos deixar saber, de verdade, o que há por trás do acidente.
Em Lake Tahoe não há música que não seja diegética (inerente à ação, ou seja, música ambiente que os personagens também escutam), a câmera fica frequentemente a meia distância da ação, e Eimbcke usa bastante a tela preta para saltar no tempo ou nos dar apenas o som de uma cena forte (como a batida do carro). Ou seja, o diretor está tentando eliminar tudo o que há de mais sentimental ali (sem close-ups, sem trilha, sem imagens de choque, sem muitos cortes dentro de uma mesma cena).
Uma hora descobrimos o que de fato ocorreu com Juan, e não vale contar aqui, claro. Lake Tahoe, de qualquer forma, desde o começo já se configurava um filme sobre a perda (da inocência, antes de mais nada). As intermissões da tela preta não são outra coisa senão a tentativa desesperada de dar presença a uma ausência sentida.
Esse desespero, repita-se, está ali mas não é verbalizado. Ainda assim, o que sobra - paisagens, tempos mortos, planos longos - tem uma energia envolvente. Parafraseando o mentor de Bruce Lee em Operação Dragão, Lake Tahoe está atrás de um "conteúdo emocional", um equilíbrio ideal entre a técnica e o impulso. Aliás, eu já disse que o belo filme de Eimbcke tem uma cena sensacional envolvendo Operação Dragão? Pois é, tem sim.

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