
Cruzamento dos Três Patetas com o Monty Python gera longa bobo e cheio de inspiração
Por: Rodrigo Carreiro
Jim Carrey ainda não era um ator milionário quando fez “Debi e Lóide” (Dumb and Dumber, EUA, 1994). De certa forma, o filme já deixa antever uma certa ousadia na escolha dos projetos que o astro iria deixar transparecer muitas vezes no futuro. Lloyd Christmas é um personagem perigosíssimo para um ator em início de carreira, porque deixa flagrante a maior inspiração da carreira do comediante: Jerry Lewis. A caracterização do sujeito o torna quase um sósia do ator responsável pelo primeiro “Professor Aloprado”. Isso, unido ao humor físico e repleto de caretas, deixaria uma marca profunda que Carrey levou muitos anos para superar. Mas uma coisa é fato: “Debi e Lóide” é uma comédia tão boba quanto inspirada.
O longa-metragem de 1994 catapultou a carreira dos irmãos Peter e Bobby Farrelly em Hollywood. Embora a direção seja assinada apenas pelo primeiro (Bobby aparece somente como co-roteirista e co-produtor), o projeto exibe a marca politicamente incorreta que seria desenvolvida – e expandida – em filmes futuros pelos dois irmãos (“Quem Vai Ficar com Mary?”, tanto quanto demonstra o saudável desprezo da dupla para detalhes técnicos e/ou enredo coerente. Eles são bons contadores de piadas, e o filme é isso: uma coleção impecável de piadas engraçadíssimas que rolam pela tela durante 101 minutos.
A tradução brasileira do título parece boba? Ela é, mas não está muito longe do nome original do filme. Os irmãos Farrelly, na verdade, sempre deixaram claro que tentam unir dois estilos de fazer comédia – o pastelão dos Três Patetas, de quem são fãs declarados, com o politicamente incorreto do grupo inglês Monty Python – em filmes sem muita preocupação com os componentes técnicos (fotografia, montagem, cenografia). “Debi e Lóide”, no entanto, dá a impressão de título de filme para crianças, quando a realidade é bem diferente.
Uma das piadas mais engraçadas da película, por exemplo, ocorre quando Lloyd vende, por U$ 25, um periquito para um garoto cego. Não parece engraçado, mas quando você sabe que o pássaro em questão foi decapitado por um mafioso, a piada fica engraçada – especialmente quando vemos a criança acariciando o bichinho, devidamente atado com fita isolante. É hilariante, embora algumas pessoas achem ofensivo esse tipo de humor. Se é o seu caso, passe longe de qualquer filme dos irmãos Farrelly.
A trama é muito simples, e funciona apenas como veículo para que Jim Carrey e um surpreendente Jeff Daniels – aqui bem distante do estilo sóbrio que sempre exibiu, mesmo quando atuou em comédias como “A Rosa Púrpura do Cairo” – façam palhaçadas e provoquem uma quantidade absurdamente grande de gargalhadas na platéia. Lloyd e o parceiro Harry Dunne (Daniels) são dois imbecis que só poderiam existir no cinema. Motorista de limusine, Lloyd cai de paixão por uma passageira (Lauren Holly) e “recupera” uma maleta esquecida por ela em um aeroporto. Sabendo que ela se dirige a Aspen, ele decide cruzar os EUA de carro (e, eventualmente, de Mobilete) para lhe devolver a pasta.
Harry entra na viagem por dividir com ele o carro (um furgão “fantasiado” de cachorro, com língua e tudo), o apartamento e a vida. O que Lloyd não sabe, porém, é que a pasta foi esquecida pela garota de propósito, pois era na verdade o milionário resgate exigido para libertar o marido dela. Assim, enquanto cruzam o país no furgão, a dupla de atrapalhados e perseguida por uma quadrilha disposta a tudo para ficar com o dinheiro. Um aviso: para assistir ao longa-metragem, esteja preparado para rir até não poder mais com piadas que envolvem garrafas de cerveja cheias de urina e coisas parecidas.
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