
Não é mais um filme sobre o sertão do Brasil
Marcelo Forlani/Omelete
Antes de começar o artigo, uma historinha. Recebemos semanalmente convites para vários filmes, por razões óbvias. Quando cheguei ao cinema para ver Deserto Feliz (2008) pensei que na verdade estava prestes a ver a animação O Grilo Feliz. Qual não foi minha surpresa quando vi na telona pessoas andando no meio do árido sertão nordestino e nada de insetos animados cantando e pulando de um lado para o outro.
Aliás, a felicidade do titulo fica mesmo só no título, que provém da cidade onde tudo começa. É lá que vive Jéssica (Nash Laila), adolescente que, como muitas outras, sofre abusos em casa e acaba saindo dali para tentar a sorte na cidade grande, trabalhando como prostituta. Deixa para trás uma família que vive da caça e revenda de animais silvestres. É cobra pra lá, passarinho para cá e... um tatu, que tem papel primordial em algumas das melhores cenas desse primeiro bloco. Calma, senhores defensores dos animais. Nenhum animal foi ferido durante as gravações, garantem os créditos finais.
No Recife, Jéssica se junta a outras meninas e passa os dias na praia ou no quarto descansando, para trabalhar à noite, no bar onde tentam fazer a cabeça dos gringos que passam por ali para beber uma caipirinha e conseguir algo mais. Neste segundo bloco, o mais longo, o diretor Paulo Caldas (Baile Perfumado, O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas) dá liberdade para as atrizes conversarem, mostrando o dia-a-dia que detectaram nas pesquisas com meninas nessa situação. Os diálogos descem como cerveja gelada no verão, redondo e necessário mas, acima de tudo, verdadeiro.
A última parte, em Berlim, mostra Jéssica ao lado de Mark (Peter Ketnath, de Cinema, Aspirinas e Urubus), numa relação e situação inimagináveis não só no início como em todo o desenvolvimento. Essas quebras de um bloco para o outro soam destoantes. Criam uma narrativa com soluço, que dá pulos inesperados. E não entendam isso como uma crítica narrativa. É, na verdade, o que dá ao projeto uma personalidade, um diferencial no meio de tantos outros filmes sobre o sertão brasileiro.
Marcelo Forlani/Omelete
Antes de começar o artigo, uma historinha. Recebemos semanalmente convites para vários filmes, por razões óbvias. Quando cheguei ao cinema para ver Deserto Feliz (2008) pensei que na verdade estava prestes a ver a animação O Grilo Feliz. Qual não foi minha surpresa quando vi na telona pessoas andando no meio do árido sertão nordestino e nada de insetos animados cantando e pulando de um lado para o outro.
Aliás, a felicidade do titulo fica mesmo só no título, que provém da cidade onde tudo começa. É lá que vive Jéssica (Nash Laila), adolescente que, como muitas outras, sofre abusos em casa e acaba saindo dali para tentar a sorte na cidade grande, trabalhando como prostituta. Deixa para trás uma família que vive da caça e revenda de animais silvestres. É cobra pra lá, passarinho para cá e... um tatu, que tem papel primordial em algumas das melhores cenas desse primeiro bloco. Calma, senhores defensores dos animais. Nenhum animal foi ferido durante as gravações, garantem os créditos finais.
No Recife, Jéssica se junta a outras meninas e passa os dias na praia ou no quarto descansando, para trabalhar à noite, no bar onde tentam fazer a cabeça dos gringos que passam por ali para beber uma caipirinha e conseguir algo mais. Neste segundo bloco, o mais longo, o diretor Paulo Caldas (Baile Perfumado, O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas) dá liberdade para as atrizes conversarem, mostrando o dia-a-dia que detectaram nas pesquisas com meninas nessa situação. Os diálogos descem como cerveja gelada no verão, redondo e necessário mas, acima de tudo, verdadeiro.
A última parte, em Berlim, mostra Jéssica ao lado de Mark (Peter Ketnath, de Cinema, Aspirinas e Urubus), numa relação e situação inimagináveis não só no início como em todo o desenvolvimento. Essas quebras de um bloco para o outro soam destoantes. Criam uma narrativa com soluço, que dá pulos inesperados. E não entendam isso como uma crítica narrativa. É, na verdade, o que dá ao projeto uma personalidade, um diferencial no meio de tantos outros filmes sobre o sertão brasileiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário