segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Alexandra

O cineasta russo Aleksandr Sokurov faz pacifismo a seu modo
Marcelo Hessel/Omelete
O cineasta russo Aleksandr Sokurov (Pai e Filho, O Sol) é um pacifista a seu modo. Como no nostálgico Arca Russa, Alexandra (Aleksandra, 2007), a história de uma senhora que visita seu neto no front de batalha no Cáucaso, elogia os valores do velho contra a frieza do novo.
Como Aleksandra Nikolaevna (vivida pela atriz Galina Vishnevskaya) não via seu neto há anos, decidiu deixar São Petersburgo e, com autorização do exército, pegar o trem para a Chechênia, onde os militares russos montaram resistência aos rebeldes separatistas. Todos no acampamento, e mesmo os locais, respeitam a avó do capitão - mas ainda assim há uma inevitável tensão no ar.
A oposição que Sokurov monta é antes de mais nada estética: a senhora de idade com sua sacola de pano com rodinhas, andando em meio a blindados com o dobro de sua altura; close-ups do rosto curtido de Aleksandra diante de garotos que mal cresceram pêlo na cara. Alexandra é um filme bem-sucedido no sentido de transformar aquele cenário tão conhecido dos noticiários, tão banalizado, em um território estranho para nós - uma vez que estamos seguindo o ponto de vista de Aleksandra.
E aí ganham força imagens como o momento em que ela empunha um fuzil ao lado do neto. A violência não está no ato de puxar o gatilho; está, sim, no ato cheio de significado de colocar a arma nas mãos de uma senhora.
O vazio da guerra se sintetiza nos comentários simples da avó: "o cheiro de dentro do tanque é desagradável". O neto retruca: com o cheiro acostuma-se. Enquanto evita impor um discurso acerca da guerra, o filme faz um eficiente pacifismo justamente por mostrar o que a guerra tem de mais trivial: é uma rotina de poeira e fedor, de limpeza de armas e troca de guardas, apenas. Uma rotina a que se acostuma.
A dicotomia velho versus novo ganha mais espaço, e periga jogar o filme num maniqueísmo, quando Sokurov leva Aleksandra a conhecer as mulheres chechenas. E aí há simplismos: só os mais velhos têm a paciência de se aproximar do outro, do diferente, com olhos sem preconceito, etc. Como Alexandra desde o começo se constrói de oposições, Sokurov anda o tempo inteiro sobre esse fio da simplificação. Ameaça cair, mas no geral se equilibra bem.


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