domingo, 27 de setembro de 2009

Café Dos Maestros


Sérgio Alpendre/Yahoo
Ao perceber que Café dos Maestros se servia de uma estrutura conservadora para retratar a reunião de verdadeiras legendas do tango e observar a maneira como eles desafiavam as mudanças dos tempos, traduzindo um ritmo tradicional e arraigado na cultura argentina para platéias acostumadas com outro tipo de abordagem e romantismo, pensei: Ah, vai ser quadrado à beça, mas pelo menos a música será boa . Quadrado à beça o documentário até é, não há como discordar. E, quando não existe a menor possibilidade de se reter qualquer desafio, qualquer instância provocadora ou titubeante, podemos estar diante de uma entre duas coisas: ou o filme é covarde para não trair o objeto retratado ou se atém a uma sobriedade que é tudo, menos o desrespeito a uma arte que merece a melhor atenção possível, sem pirotecnias ou malabarismos. É preciso meia hora, pelo menos, para que se perceba que Café dos Maestros faz parte do segundo grupo, o de filmes que se servem de um comportamento exemplar para melhor captar nuances e detalhes entre um bando de apaixonados talentosos. É aí, com o passar das cenas, com o decorrer dos trechos musicais, com a decifração das partituras, que se revela o maior poder desta deliciosa e tocante obra: revelar-nos, sem filtros ou escamoteamentos, a entrega desses músicos formidáveis. Não há um momento sequer em que o filme caia num reducionismo moribundo ou na armadilha do retrato jornalístico. Tudo o que vemos, por mais careta que seja, vem cercado de uma aura que parece a mesma que inspira esses monstros do tango. E quando o show no Teatro Colón finalmente é mostrado, não nos resta muito mais do que enxugar as lágrimas e tentar guardar essas melodias mágicas pelo maior tempo possível em nossas cabeças. Quem adora tango já deve se programar para umas duas sessões seguidas, no mínimo. Quem não se interessa, tem tudo para se apaixonar e correr atrás das gravações, numa tentativa de perpetuar a sensação que o filme proporciona. Café dos Maestros é a prova definitiva que às vezes o conservadorismo cinematográfico, por maior que seja, é incapaz de trair o que a música pode proporcionar de melhor, uma sintonia direta com nosso coração.

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