
Novo documentário de Errol Morris revisita as imagens de Abu Ghraib
Érico Borgo/Omelete
No segundo semestre de 2003, foram reveladas centenas de imagens internas da prisão de Abu Ghraib, no Iraque. As fotos, tiradas por três câmeras dos próprios soldados aquartelados no local, registravam de maneira humilhante quadros de abuso de prisioneiros e tortura física e psicológica.
Quando alcançaram o público as cenas provocaram revolta mundial. Mais que um registro de atrocidades, elas colocavam em xeque a já abalada imagem dos Estados Unidos da América como "polícia do mundo". Eram, afinal, prova de um discurso mentiroso, de um país que dava às costas para a Convenção de Genebra enquanto realizava sua guerra de vendetta particular, erroneamente motivada pelo 11 de Setembro.
Responsabilidades do caso já haviam sido discutidas no documentário Fantasmas de Abu Ghraib (Ghosts of Abu Ghraib, 2006). Agora, o assunto volta à pauta em Procedimento Operacional Padrão (S.O.P. Standard Operating Procedure), filme vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim 2008.
Com os responsáveis já devidamente identificados, o novo documentário busca os porquês. Em entrevistas com quase todas as pessoas que tiraram as fotos que chocaram o mundo - e posaram nelas -, especialistas em imagens digitais e interrogadores profissionais,o excelente e polêmico documentarista Errol Morris (Sob a Névoa da Guerra) examina o contexto das fotografias. Ao conhecer cada um dos participantes, Morris dá ao público a chance de entendê-los, compreendendo assim se as famigeradas fotos de Abu Ghraib foram resultado de um grupo de soldados desregrado ou parte de um comportamento frequente das forças armadas dos EUA, escondido dos olhos do público.
As entrevistas são reveladoras, as fotos cuidadosamente pesquisadas e pintam um retrato fiel do que aconteceu na primavera de 2006 no Iraque. Mas Morris exagera na embalagem dos fatos. O filme tem um sem-fim de animações, reconstituições 3-D e dramatizações - tudo musicado pelo nada sutil compositor Danny Elfman (Batman, Os Simpsons) - que chegam a tirar o foco do filme.
Há, porém, excelentes registros de momentos emblemáticos. Em um dos depoimentos, uma soldado que foi fotografada com um prisioneiro na coleira, explica que não estava sozinha na imagem, mas que a outra pessoa que aparecia ali foi cortada pelo fotógrafo, o militar Charles Graner (condenado a 10 anos de prisão), porque "ela atrapalhava sua composição artística". Outras pessoas simplesmente foram mais espertas, sempre escondendo-se atrás das câmeras.
Como nenhum militar sequer acima da patente de Sargento foi punido pelos abusos de Abu Ghraib, fica a certeza que outros "cortes artísticos" e responsáveis escondidos nas sombras existem, alegando simplesmente desconhecimento dos atos de seus subordinados. Aparentemente, o Photoshop funciona tão bem na vida real quanto no meio digital.
Érico Borgo/Omelete
No segundo semestre de 2003, foram reveladas centenas de imagens internas da prisão de Abu Ghraib, no Iraque. As fotos, tiradas por três câmeras dos próprios soldados aquartelados no local, registravam de maneira humilhante quadros de abuso de prisioneiros e tortura física e psicológica.
Quando alcançaram o público as cenas provocaram revolta mundial. Mais que um registro de atrocidades, elas colocavam em xeque a já abalada imagem dos Estados Unidos da América como "polícia do mundo". Eram, afinal, prova de um discurso mentiroso, de um país que dava às costas para a Convenção de Genebra enquanto realizava sua guerra de vendetta particular, erroneamente motivada pelo 11 de Setembro.
Responsabilidades do caso já haviam sido discutidas no documentário Fantasmas de Abu Ghraib (Ghosts of Abu Ghraib, 2006). Agora, o assunto volta à pauta em Procedimento Operacional Padrão (S.O.P. Standard Operating Procedure), filme vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim 2008.
Com os responsáveis já devidamente identificados, o novo documentário busca os porquês. Em entrevistas com quase todas as pessoas que tiraram as fotos que chocaram o mundo - e posaram nelas -, especialistas em imagens digitais e interrogadores profissionais,o excelente e polêmico documentarista Errol Morris (Sob a Névoa da Guerra) examina o contexto das fotografias. Ao conhecer cada um dos participantes, Morris dá ao público a chance de entendê-los, compreendendo assim se as famigeradas fotos de Abu Ghraib foram resultado de um grupo de soldados desregrado ou parte de um comportamento frequente das forças armadas dos EUA, escondido dos olhos do público.
As entrevistas são reveladoras, as fotos cuidadosamente pesquisadas e pintam um retrato fiel do que aconteceu na primavera de 2006 no Iraque. Mas Morris exagera na embalagem dos fatos. O filme tem um sem-fim de animações, reconstituições 3-D e dramatizações - tudo musicado pelo nada sutil compositor Danny Elfman (Batman, Os Simpsons) - que chegam a tirar o foco do filme.
Há, porém, excelentes registros de momentos emblemáticos. Em um dos depoimentos, uma soldado que foi fotografada com um prisioneiro na coleira, explica que não estava sozinha na imagem, mas que a outra pessoa que aparecia ali foi cortada pelo fotógrafo, o militar Charles Graner (condenado a 10 anos de prisão), porque "ela atrapalhava sua composição artística". Outras pessoas simplesmente foram mais espertas, sempre escondendo-se atrás das câmeras.
Como nenhum militar sequer acima da patente de Sargento foi punido pelos abusos de Abu Ghraib, fica a certeza que outros "cortes artísticos" e responsáveis escondidos nas sombras existem, alegando simplesmente desconhecimento dos atos de seus subordinados. Aparentemente, o Photoshop funciona tão bem na vida real quanto no meio digital.
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