terça-feira, 27 de outubro de 2009

Encurralado


Antes de virar o nome mais conhecido da indústria cinematográfica e se tornar um dos 100 homens mais ricos do mundo, Steven Spielberg era apenas um cineasta aspirante, com muitas idéias, mas com pouco espaço dentro dos estúdios. Até que a NBC, em 1971, entregando um orçamento minúsculo, pediu para ele dirigir um telefilme que não poderia passar dos 75 minutos de duração. O trabalho sobre condições precárias marcava o surgimento de um mestre. Um exercício competente e contagioso.
Sendo obrigado a terminar o trabalho em curtíssimo espaço de tempo, o jovem Spielberg, preferindo filmar em locações reais, ao invés de filmar em estúdio, utilizou todos os precários recursos de maneira tão eficaz que a aventura de acompanhar um filme aparentemente sem história alguma acabou se tornando um exercício cinematográfico delicioso. Roteirizado por Richard Matheson (que viria a se tornar seu fiel colaborador, juntamente com o músico John Williams e o fotógrafo Janusz Kaminski), Encurralado, apesar de parecer apenas uma brincadeira de Spielberg, oferece diversão de qualidade.
A trama é tão simples como a receita de um bolo de chocolate. Aqui, o chocolate é o caminhão de um motorista psicótico (que nunca tem seu rosto mostrado) que, subitamente, resolve perseguir David Mann (Dennis Weaver), quando este o ultrapassa na estrada. O que parecia ser apenas uma brincadeira de mau gosto começou a se mostrar uma verdadeira perseguição implacável, onde David não poderia nem respirar sem que o barulho estrondoso do gigantesco caminhão que o persegue soar ao pé do seu ouvido.O duelo que o título original - Duel - faz referência, representa uma grande analogia aos clássicos de Sergio Leone protagonizados por Clint Eastwood. Na verdade, as batalhas épicas vistas em clássicos do diretor como Era Uma Vez No Oeste e Por um Punhado de Dólares (filme que fez o mundo conhecer Clint), funcionam perfeitamente aqui. O duelo que vemos na tela é absurdamente verossímel, tanto que assusta. Trata-se de uma batalha onde nunca sabemos quem sairá vencedor. A perseguição que Spielberg dirige com categoria não tem ambição alguma, o que o diretor queria era apenas entreter. De fato, o que vemos em Encurralado é uma sucessão de ângulos vazios e de câmera tensa, o que acaba deixando o espectador preso na cadeira.Encurralado consegue ser tão bom quanto grande parte dos filmes que o diretor entregaria ao longo de sua carreira. A tensão criada pelo diretor que faria Tubarão é viciante. O roteiro de Matheson não tem construção de personagens ou subtramas, é objetivo até o último minuto. Apesar de simples, o texto parece ter sido pincelado enquanto o roteirista sofria de um ataque de risos, tamanha é a determinação do autor em fazer o público rir de tensão. Matheson e Spielberg escondem o mistério até o final, mas até lá o espectador já sofreu um bom bocado tentando imaginar o que acontecerá, ou quem vencerá aquela batalha de sangue.A direção vigorosa de Spielberg e a opção de Matheson de nunca mostrar o rosto do motorista do caminhão (o que vemos é apenas a silhueta bandidão) fazem de Encurralado um trabalho admirável, mostrando que grandes diretores surgem trabalhando com pouco mas criando muito. E criatividade foi o que não faltou aqui!

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