sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

As Melhores Coisas Do Mundo


Antes Que O Mundo Acabe


Um Homem Que Grita


Minha Terra, Africa


Aproximação


O Sol Do Meio-Dia


Abutres


Mistério de Lisboa


Copia Fiel


Carlos



Procurando Elly


O Grão


Sempre Bela


le illusionniste


Rabbit Hole


Cisne Negro


Incendies

O último desejo de uma mãe aos seus filhos gêmeos é que eles viagem ao Oriente Médio para procurar suas origens, em especial, seu pai, que eles imaginavam estar morte.
Diretor: Denis Villeneuve
Elenco: Lubna Azabal, Mélissa Désormeaux-Poulin, Maxim Gaudette, Rémy Girard, Allen Altman
Produção: Kim McCraw, Luc Déry
Roteiro: Denis Villeneuve
Fotografia: André Turpin
Trilha Sonora: Grégoire Hetzel
Ano: 2010
País: Canadá
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Imovision
Estúdio: micro_scope

A Origem

Quando se achava que as boas historias de ficção ciêntica estavam fadadas a filmagens de livros e contos de Philip K. Dick e Izaac Asimov, temos então um ótimo roteiro de ficção original de Christopher Nolan, com seu filme “A Origem”, que era o mais aguardado filme do ano.
Entre os bons filmes de ficção, sim, temos “Matrix”, que arrebatou público e crítica, que surpreendeu, encantou, mas que também se perdeu em suas continuações.Então chega Nolan, com uma história, que podemos até dizer que usa referências de Matrix, quando se fala em uma realidade paralela e a forma como é coloda, mas não, não vá esperando a mesma colocação, realização, afirmação, não vá esperando um outro “Matrix“.
“A Origem” consegue ser superior em vários pontos. Por mais ficção, por mais “viagem” que sejá o roteiro de Nolan, ele nos permite essa viagem por pura e simplesmente se utilizar de um espaço onde tudo pode. Os nossos sonhos. Neles, podemos voar, matar, morrer, e até criar cidades inteiras, e mesmo estar ao lado de pessoas que já se foram. Nos sonhos, como já afirmei, tudo pode. E é aí que Nolan acerta em cheio.
A historia, é complicada, pelo menos inicialmente. Não há como negar. Mas o roteiro de Nolan é também um clássico. Sabe aquela historia do “grande assalto”, que parece que já vimos em algum lugar? Pois é, é um pouco assim também. Mas então o roteiro nos prêmia com uma novata, a Adiadne, vivida por Ellen Page, que não conhece a estrutura e aprende, junto com o espectador, tudo que que acontece na “viagem” do roteirista.
O diretor, Christopher Nolan, rege o filme com maestria. Realmente, sua filmografia (Amnésia, Batman – Beggins,
Batman-O Cavaleiro das Trevas ) tem provado que já pode ser colocado como um dos maiores diretores de sua geração. Ainda mais quando falamos, de um diretor essencialmente Hollywoodiano, podemos afirmar que sim, pode existir vida inteligente nos “blockbusters”.
Assim foi falado quando vimos Batman, tanto o Beggins quando o Cavaleiro das Trevas, e o mesmo repetimos agora. Nolan consegue agradar o público médio, e sim, o que espera um cinema acima da média.
Todos grandes efeitos visuais de seu filme de nada seviriam sem o roteiro bem amarrado, sem as interpretações grandiosas de seus atores. Outro ponto forte em seus filmes, é a direção de atores. Leonardo Di Caprio está aqui em um de seus melhores papeis, Marion Cotillard aparece menos do que gostariamos, mas sempre rouba a cena pra ela em suas aparições, temos ainda Ellen Page e Joseph Gordon Levitt com interpretações inesquecíveis. E mais um presente, Michael Caine, que mesmo com um pequeno personagem, mais uma vez, nos presenteia com sua presença forte e em um personagem pequeno, mas de grande importancia no filme.

Realmente, o elenco é um dos pontos mais fortes do filme. E é aí a grande sacada de Nolan, ao se preocupar essencialmente no roteiro, mesmo em um filme para o grande público. E ainda, com um elenco bem trabalhado, bem afinado, é meio caminho andado para filme de sucesso.
Porém as qualidades do filme não param por aí. Roteiro, como já foi citado, e os efeitos visuais que impressionam. São, apesar como em um sonho, são trabalhados para realmente acreditarmos neles. Parece que realmente vemos uma grande cidade se acabando com o vento, ou um trem passando no meio da cidade, ou qualquer coisa que o diretor nos coloca. Ele convence.
Então chegamos a mais um ponto, que aqui, foi fundamental para o clima do filme. Ou porque não falar de climax, que dura um terço do filme. O rítmo do filme, já alucinante, durante o ”grande golpe” é elevado ao quadrado. E a música de Hans Zimmer casado com as imagens de Nolan deixam nosso coração apertado, acelerado, enfim, nos deixam extasiados. Mais uma grande trilha sonora desse que é um Alemão, que hoje radicado nos EUA, é um dos melhores e mais solicitados compositores de Hollywood.
E mais uma vez, temos aqui, em “A Origem”, um cinema, por mais blockbuster que seja, é um cinema de autor. Nolan é além de roteirista e diretor, produtor de seu filme. O que lhe dá total comando em sua obra. Citando então o grande crítico Luiz Carlos Mertem eu comemoro com ele “E viva o cinemão de autor”
“A Origem” é um desses filmes, que assistimos e levamos pra casa. Pensamos, conversamos sobre ele, e ele passa semanas nos fazendo companhia. É um desses filmes que nos deixa extasiados no cinema, que dá vontade de rever, e logo, ainda no cinema. Pois o bom cinema é assim. E a experiência de um bom filme, em uma boa sala de cinema é insubistituível.

Splice


Atração Perigosa

Galã consagrado por filmes como "Intrigas de Estado" e "O Pagamento", Ben Affleck faz sua segunda tentativa na direção no policial "Atração Perigosa", em que ele, aliás, é também protagonista.
Adaptando, ao lado dos roteiristas Peter Craig e Aaron Stockard, o livro "O Príncipe dos Ladrões", de Chuck Hogan, Affleck teve a alegria de ver seu filme galgar os primeiros postos da bilheteria norte-americana, consagrando-o como diretor. O primeiro filme que dirigiu, o drama "Medo da Verdade", de 2007, teve resultados bem mais modestos e, no Brasil, foi lançado diretamente em DVD.
Affleck interpreta Doug MacRay, o sutil e esperto líder de uma gangue de ladrões de banco em Boston. O filme começa com uma de suas ações, nas quais invariavelmente eles usam máscaras.

Mantendo um controle rígido do tempo de cada etapa do assalto, eles são surpreendidos pelo imprevisto acionamento de um alarme por um gerente - o que leva um dos ladrões, o impulsivo James (Jeremy Renner, de "Guerra ao terror"), a agredi-lo, o que não faz parte dos métodos aprovados por Doug.
Pior ainda, como a polícia chegou, os ladrões tomam uma refém, a bancária Claire (Rebecca Hall, de "Vicky Cristina Barcelona"), que tem seus olhos vendados e é solta pouco depois.
O incidente coloca a quadrilha de sobreaviso. Um sinal de alerta surge quando Doug descobre que Claire mora na mesma vizinhança que todos eles, o bairro de classe média de Charlestown.
Nada indica que a moça tenha podido ver qualquer coisa que os identificasse, o que ela repete em seus depoimentos à polícia. Mas o agente do FBI Adam Frawley (Jon Hamm, do seriado "Madmen") não está nada convencido e vigia Claire de perto, acreditando que pode ter algo a ver com os bandidos.
De seu lado, Doug e James também estão vigiando a moça, com objetivos bem diferentes. James quer matá-la ao primeiro indício de que ela possa entregá-los. Doug o controla porque sua intenção é evitar violência.
Inesperadamente, Doug se apaixona por Claire e aproxima-se dela de uma forma que coloca os dois em risco - e aumenta as suspeitas de Adam, que acompanha de perto os passos de Doug, um ladrão esperto demais para deixar pistas, que tem um pai na prisão (Chris Cooper), mas também uma fachada honesta, com um emprego legal, numa construção.
Montado esse cenário explosivo, o filme é conduzido com ritmo e energia eletrizante, com ótimas sequências de perseguição pelas ruas de Boston. São pontos altos a montagem, de Dylan Tichenor, e a fotografia, de Robert Elswit.

Minhas Mães e Meu Pai

"Minhas Mães e Meu Pai" faz retrato de família moderna
A família contemporânea mudou. As dinâmicas familiares continuam as mesmas, mas os membros que as compõem são diferentes, como bem mostra "Minhas Mães e Meu Pai".
Na comédia de Lisa Cholodenko ("Laurel Canyon - A Rua das Tentações"), Julianne Moore ("Ensaio sobre a Cegueira") e Annette Bening ("Beleza Americana") formam um casal de lésbicas, mães de dois filhos. Cada uma deu à luz um deles, concebidos com inseminação artificial do mesmo pai, Paul (Mark Ruffalo, de "Ilha do Medo").
Escrita por Cholodenko e Stuart Blumberg ("
Tenha Fé"), "Minhas Mães e meus Pais" tem um olhar astuto sobre a família e a forma como pais e filhos se relacionam atualmente. Joni (Mia Wasikowska, de "Alice no País das Maravilhas") acaba de completar 18 anos, é brilhante e vai para uma faculdade de prestígio. Seu irmão mais novo, Laser (Josh Hutcherson, "Viagem ao Centro da Terra"), é do tipo esportivo. É ele quem a convence a procurar a clínica de inseminação para descobrir a identidade do doador, ou seja, o pai dos dois.
Quando Paul, dono de um restaurante, entra em cena, a harmonia da família sai pela porta dos fundos. Não que tudo estivesse indo muito bem. O melhor amigo de Laser é uma péssima influência sobre ele, e Joni tem dúvidas sobre estar apaixonada. À medida que o pai deles começa a tomar contato com os dois, as dúvidas e problemas de cada um vêm à tona e mostra que as mães, Nic (Annette) e Jules (Julianne), não são tão perfeitinhas quanto julgavam.
Nic é uma médica, organizada e controladora, pés no chão, e mantém a família no prumo. Já Jules é uma espécie de hippie que já tentou vários trabalhos, mas nunca se satisfez com nenhum deles. As duas se amam, mas, como qualquer casal, enfrentam crises.
Ao contrário da maioria das comédias, tanto nacionais quanto estrangeiras, os personagens de "Minhas Mães e meu Pai" passam longe de ser meros tipos nas mãos de roteiristas e diretores para efeito cômico. Aqui, existem seres humanos lidando com problemas, sentimentos e emoções. Jules e Nic são mães compreensivas, mas que nunca realmente entendem seus filhos. Cheias de dúvidas, creem fazer o melhor, mas nem sempre se saem bem.
Por isso, a chegada de Paul soa, num primeiro momento, como uma ameaça. O que esse estranho quer dos filhos delas? Ele que, sequer, sabia da existência de Laser e Joni, agora reivindica seus direitos de pai?
O detalhe é que ele desconhecia isso não por descaso seu, mas porque nunca foi comunicado - o que até faz parte do sigilo desse tipo de doação. Quando descobre que tem dois filhos quase adultos, ele tenta recuperar o tempo perdido, pensando em assumir o papel de pai.
Paul não é um vilão - até porque neste filme não existem rotulações. Na verdade, a sua atitude perante a vida incomoda Nic e seduz Jules, que trabalha como paisagista e está montando um jardim no fundo da casa dele. Mesmo quando a história ameaça jogar todos os demônios dos personagens para cima de Paul, a diretora e Ruffalo sabem que o pai de Laser e Jules não é culpado de tudo.
Sem cair em vícios do cinema independente norte-americano, que parecem colar um selo de aprovação do Festival de Sundance nos filmes, "Minha Mães e Meu Pai" tem a narrativa conduzida pelos personagens e suas ações, ou melhor, suas escolhas e renúncias. Cholodenko dá espaço para que os atores trabalhem sem que movimentos de câmeras e efeitos de fotografia desnecessários desviem a atenção da trama.
"Minhas Mães e Meu Pai" ganhou o prêmio Teddy, no Festival de Berlim, em fevereiro - uma estatueta conferida ao melhor longa de temática gay. Cholodenko faz um retrato terno e engraçado de nosso tempo. Tempos em que criar os filhos parece muito mais complicado do que colocar comida na mesa e pagar as contas.

Shoah

"Shoah", um documento visual sobre o genocídio dos judeus
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de outubro de 1989
Nos últimos 40 anos, dezenas de documentários procuraram mostrar os horrores do nazismo e, especialmente, do genocídio contra a raça judaica. Cineastas de diferentes nacionalidades, em diferentes ângulos e interpretações, utilizando material de várias procedências, mostraram em médias e longas metragens a irracional perseguição ao povo judeu, os campos de concentração numa denúncia sempre necessária de ser reavivada, especialmente porque o anti-semitismo ainda existe e forças neo-nazistas, em diferentes países, se (re)organizam e permanecem em constante ameaça. Portanto um documentário como "Shoah", que o jornalista e cineasta francês Claude Lanzmann levou dez anos para realizar é mais do que um simples programa cinematográfico. Pela sua extensão - 9h30 - e seriedade, se constitui numa espécie de curso intensivo sobre a questão judaica, o nazismo, a brutalidade, examinando vários aspectos de um assunto que longe de estar superado - como muitos apregoam - mais do que nunca merece ser revisto. Tratando-se de um filme especial, para ser visto em duas partes, "Shoah" exige também um tratamento especial para ser apresentado ao público - o que, infelizmente, não aconteceu em Curitiba (ver texto a respeito nesta mesma página), pela dureza do tema abordado, profundidade da realização, este filme de Lanzmann exige espectadores preparados para aceitar um desafio visual. A primeira parte, com 270 minutos está em exibição desde quinta-feira no cine Groff (14 a 19h30), devendo ser apresentado, a partir do próximo dia 26, a segunda parte. Lançado em Paris no verão de 1985, "Shoah" vem tendo exibições, sempre dentro de esquemas especiais de preparação do público, em várias partes do mundo. No Brasil, sua primeira projeção ocorreu numa mostra paralela do II Festival Internacional de Cinema, Vídeo e Televisão, em novembro de 1985. Posteriormente, a distribuidora Alvorada legendou duas cópias que tem sido apresentadas em circuito especiais. "Shoah" é um filme que não apresenta explicitamente os horrores dos campos de concentração. Lanzmann, que em 1973 já havia realizado outro documentário importantíssimo ("Por que Israel?/Por quoi Israel?, 1973) buscou um jornalismo com nove horas e meia de entrevistas. Assim, a partir de 1974, quando iniciou o projeto, entrevistou dezenas de participantes do fato: sobreviventes, testemunhas, algozes. Entrevistas às vezes emotivas, torturantes, sempre difíceis, minuciosas. Realizadas em várias línguas: inglês, alemão, francês, hebraico, polonês, idich. Em muitos lugares do mundo: Estados Unidos, Israel, Grécia, Suiça, Alemanha e, sobretudo, Polônia, onde se localizavam os maiores campos nazistas. Em algumas seqüências, sobreviventes são levados às ruínas dos campos onde estiveram (Auschwitz, Treblinks, Sobibor) e narram in loco as suas vivências. Depois de tantas entrevistas, Lanzmann procurou montar 350 horas de filmagens - reduzindo para nove horas e meia. Em todos os países onde tem sido exibido nestes últimos quatro anos, "Shoah" provoca debate e estudos. No Brasil, entretanto, pouca coisa foi publicada a respeito - talvez pelo fato do filme ter sido apresentado somente em algumas poucas cidades. Um dos mais completos estudos a respeito foi de Paulo Cesar Souza, 33 anos, autor de "A Sabinada - A Revolta Separatista da Bahia" (Brasiliense), tradutor de várias obras (inclusive "Poemas", de Brecht), que em duas páginas da "Folha Ilustrada" (Folha de São Paulo, 10/1/1988), analisou com profundidade a obra de Lanzmann ("Shoah - o filme, o fato"). Uma das primeiras definições dadas por Paulo Cesar Souza a respeito deste documento foi o seguinte: Uma obra ambiciosa, que busca simplesmente perscrutar o inescrutável. A intenção de Lanzmann foi - creio - realizar uma "summa anthropologica", uma síntese da memória e da reação ao mais hediondo acontecimento, o mais ignominioso crime de que há registro na experiência humana". Tendo assistido "Shoah" em Israel - e posteriormente visitado (e se emocionado) o campo de Auschwitz, conservado como uma espécie de museu do genocídio nazista, Paulo Cesar Souza fez uma análise de grande profundidade sobre o documentário, buscando aproximações com uma ampla documentação sobre o pensamento nazista, citações de uma obra definitiva a respeito ("The Destruction of the European Jews", do americano Raul Hilbert, 1961), que também trabalhou dez anos fazendo pesquisas em fontes primárias (documentos originais) para publicar um livro de mil páginas, Hilbert foi um dos entrevistados por Lanzmann, que, dentro do possível, procurou ouvir todas as pessoas capazes de falar sobre o genocídio judeu. Mas como observou Paulo Cesar Souza, o filme não é uma simples sucessão de entrevistas. "Através da franqueza de suas perguntas, e de uma sutil orquestração de falas, rostos e lugares, seu diretor obtém um curioso efeito de aproximação entre presente passado, protagonista e espectador, dizendo - ou dando a entender - coisas que jamais foram ditas numa tela. Tratando do destino de um povo que mais que nenhum venerou a Palavra - o "povo do Livro" - é justo que esse filme utilizasse a palavra como meio e que obedecesse à proibição sagrada de representar por imagem. Não há imagens da época em "Shoah". "Shoah": palavra hebraica que significa "destruição", "ruína", "calamidade" (cf. Isaias 10.30); utilizada em Israel para designar o extermínio dos judeus na Europa nazista; traduzida imprecisamente como holocausto. Holocausto: palavra grega que significa "imolação"; sacrifício aos deuses, no qual a vítima era queimada inteiramente". Uma obra como "Shoah" não pode (nem deve) ser apreciada como um filme convencional. Extrapola as limitações do sentido de entretenimento como a usina dos sonhos é utilizada normalmente. Ao contrário, é uma forma que Lanzmann, jornalista dos mais conceituados na França, profundo estudioso das questões ligadas a sua raça, procurou para fazer - mais do que num livro ou na imprensa em que atuou por muitos anos - uma exposição ampla da questão judaica. Em 1973, em "por que Israel?" (inédito no Brasil) já levantava vários questionamentos. Em 1985, concluído "Shoah" trouxe ao mundo uma obra mais específica, para ser vista com atenção, com a mesma seriedade com que se estuda um livro de idéias e fatos - para que se compreenda melhor "ao mais ignominioso crime de que há registro na experiência humana", como bem disse Paulo Cesar Souza.

Fora da Lei


Francês de origem argelina, o cineasta e roteirista Rachid Bouchareb reabre mais uma vez as malcuradas feridas da independência argelina no drama "Fora da Lei", estreando em São Paulo e Rio de Janeiro.
A identidade argelina, aliás, é um tema recorrente em sua obra, em que se destaca "Dias de Glória", que abordava outra dívida histórica com os argelinos e seus descendentes que lutaram pela França na II Guerra Mundial mas continuaram sendo discriminados no país. Concorrente à Palma de Ouro em Cannes em 2006, "Dias de Glória" obteve ali um prêmio coletivo de interpretação masculina.
"Fora da Lei" pisa em terreno bem mais minado, até porque não trata apenas de disparar munição crítica contra os crimes dos colonizadores franceses - o que certamente faz, especialmente no retrato do chamado massacre de Sétif, em 1945. A reconstituição do massacre, que teria custado a vida de milhares de argelinos (as cifras variam de 2.500 a 45.000, dependendo das fontes) e em torno de 100 europeus, é um dos principais motivos de um boicote ao filme, promovido por deputados da direita e extrema-direita francesa, caso de Lionnel Luca e do notório Jean-Marie Le Pen.
Luca, aliás, participou de uma barulhenta passeata, reunindo ex-veteranos da guerra da Argélia e moradores de Cannes (reduto eleitoral dos partidos com programas de restrição a imigrantes estrangeiros), que passou por aquela cidade bem na hora da primeira sessão de "Fora da Lei" no festival de 2010, em que o filme concorreu à Palma de Ouro.
Nenhum dos políticos ou desses manifestantes havia então assistido ao filme - o que se tornou o primeiro argumento de defesa do diretor, em sua entrevista coletiva em Cannes. Ele lembrou que sua obra anterior, "Dias de Glória", havia sido tachada de "antifrancesa" na época, por pessoas que não a haviam visto. Bouchareb sustentou na época que sua intenção "não foi criar discórdia e sim abrir espaço para um debate que possibilite que possamos amanhã virar esta página".
Um olhar mais sereno sobre o filme, que acompanha as vidas de três irmãos (Sami Bouajila, Roschdy Zem e Jamel Debbouze), que são drasticamente mudadas pelo engajamento de dois deles na militância a favor da FLN (a frente pró-argelina), deixa claro que o retrato dos guerrilheiros argelinos não é sempre edificante. Ou seja, o diretor consegue matizar as nuances de sua história, fugindo do maniqueísmo.
Por mais que humanize esta família central e justifique a adesão inicial dos argelinos a favor de sua causa, bem cedo se expõe a impiedade dos militantes, promovendo atentados e matando todos aqueles que se opõem às suas diretrizes. Inclusive os próprios irmãos.
Se "Fora da Lei" tem uma agenda politicamente correta, é a de reafirmar a dignidade dos pied noirs - como são chamados os argelinos e seus descendentes, um grupo onde figura o escritor Albert Camus.
A onda de criticismo que se levantou na direita francesa, no entanto, tem mais a ver com um tipo de nacionalismo exacerbado, que não admite ver os franceses retratados como colonizadores impiedosos, capazes de cometer massacres de civis e tortura - o que se trata de História, não difamação, e já foi objeto de outro filme, aliás, um clássico do cinema político, "
A Batalha de Argel" (1966), do italiano Gillo Pontecorvo.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A Rede Social

"A Rede Social" é muito mais que um filme sobre Facebook
Um nerd sem habilidades sociais, mas querendo se tornar descolado. Um par de gêmeos mauricinhos com dinheiro e ideias, mas não espertos o bastante para executá-las. Um brasileiro estudando em Havard com mau gosto para roupas e movido pelo eterno impulso de satisfazer o pai. Bem-vindo a era das relações de mentirinha de "A Rede Social", em que as emoções e expressões estão apenas a um toque de distancia.
Dirigido por David Fincher ("O Curioso Caso de Benjamim Button" e "Clube da Luta"), a partir de um roteiro de Aaron Sorkin ("Jogos de Poder" e a série de TV "The West Wing"), baseado no livro "Bilionários por Acaso", de Ben Mezrich, o filme tem como mote o nascimento do Facebook, mas seria reducionista demais dizer que trata apenas dos bastidores da criação de um site.
"A Rede Social" aspira, e consegue em boa parte do tempo, ser o retrato de uma geração que nasceu com o boom da Internet e, ao chegar à idade adulta, descobre que a interação humana não é necessária para haver interatividade.

O filme começa com diálogos incessantes e pouco importa do que se depreende deles. O objetivo é entender que os jovens se interessam por informação - em grande quantidade, pouco importa sua qualidade ou profundidade. O mesmo se aplica aos relacionamentos, sejam amorosos ou simples amizades.
Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg, de "
Zumbilândia") difama sua namorada Erica (Rooney Mara) na Internet depois de levar um fora dela. Não bastasse isso, inventa um site onde garotas "competem" por votos para serem escolhidas as mais bonitas de Harvard.
O que começa com uma brincadeira, se torna alvo de um processo milionário envolvendo a criação de um site de relacionamentos que mais tarde viria a ser - e é até hoje - conhecido como Facebook. Ele enfrenta os gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss (Armie Hammer) e o brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield), sempre com a mesma pose parte blasé, parte nerd.
Zuckerberg é uma figura paradoxal. Com pouco trato para laços sociais, se torna o criador do site de relacionamentos mais usado do mundo. Apesar de manter os nomes reais dos personagens, o filme de Fincher não se preocupa em ir, no que se refere à questão de biografia, além daquilo que já se conhece da repercussão da criação do site, dos processos e tudo o que os envolvem.
O diretor cria "A Rede Social" como um thriller sobre disputas intelectuais e relacionamentos reduzidos a códigos de computação. Logo de início, é Eduardo que ganha a simpatia do público como um personagem frágil e sempre preocupado em não decepcionar seu pai. Mark, ao contrário, é sutilmente arrogante, com olhar soturno parece não deixar de analisar nenhum ângulo de qualquer situação - o que parece transformá-lo numa figura fria e calculista.
Só com a entrada de Sean Parker (Justin Timberlake), Mark vai se convencer da possibilidade de ganhar dinheiro com o site. Sean, um dos criadores do Napster, que revolucionou a forma como as pessoas distribuem música, ganha a confiança de Mark com seu modo divertido e bon vivant, e eles se tornam parceiros.
Fincher sempre foi um diretor de apuro técnico o que, muitas vezes, esfria seus filmes ou deixa as emoções enterradas bem lá no fundo. Aqui essas características são bem pertinentes. Os jovens criadores do Facebook são herdeiros - ou porque não filhos? - daqueles yuppies depressivos de "Clube da Luta". Se distribuir socos era uma forma de interação social no filme de 1999, aqui, uma conexão com a Internet pode trazer efeitos mais perigosos do que uma noite de troca mútua de sopapos.
"A Rede Social" é um daqueles filmes que chegam a ser assustadores por serem capazes de captar com tanta sagacidade o momento em que vivemos. Daqui a alguns anos, quando outras obras se debruçarem novamente sobre esse período, provavelmente o retratarão com senso mais crítico - mas sem o frescor e a confusão de levar para a tela a vida do lado de fora do cinema naquele momento.

Uma Noite Em 67


A impressão que tive de Uma Noite em 67 é que a intenção do documentário é desmistificar ídolos da música popular brasileira, os humanizando, ao mostrar os bastidores daquele memorável Festival de MPB que chegou a incomodar até a ditadura militar. Os então garotos de vinte e poucos anos Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Roberto Carlos e Edu Lobo, entre outros (alguns até então jovens desconhecidos, como os revolucionários Mutantes), apesar de famosos, eram pessoas comuns - e ainda o são. Eles também têm medo, ficam nervosos e, de vez em quando, até embolam o meio de campo ao dar uma entrevista.
Uma Noite em 67 não tem a pretensão de ser um filme sobre política, ideologia e afins. É um documentário sobre seis canções - Roda Viva (Chico Buarque e MPB4); Alegria, Alegria (Caetano Veloso); Domingo no Parque (Gilberto Gil e Os Mutantes); Ponteio (Edu Lobo); Maria, Carnaval e Cinzas (Roberto Carlos) e Beto Bom de Bola (Sérgio Ricardo) -, que tinham como pano de fundo um dos períodos históricos mais turbulentos da história brasileira: a ditadura. O próprio programa de TV que produzia o Festival não tinha pretensões de ser mais do que um programa de TV, preocupado apenas em entreter o público e os telespectadores com fórmulas de roteiro televisivo para gerar mais audiência.
Em 21 de outubro de 1967, o III Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record, colocou para competir pelos primeiros lugares da competição artistas hoje considerados fundamentais para a história da MPB. Tropicalismo explodindo, MPB rachando, passeata contra a guitarra elétrica, vaias e aplausos fervorosos como se a plateia fosse uma torcida de futebol, violão quebrado e arremessado ao público, músicos com firmes visões políticas que seriam refletidas em suas composições, entrevistas da época e atuais com os protagonistas do Festival, o jurado Sérgio Cabral e o produtor Solano Ribeiro, entre outros... Para os amantes da música brasileira, Uma Noite em 67 é um documentário obrigatório.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

quinta-feira, 6 de maio de 2010

The Killer Inside Me


Gangster's Paradise: Jerusalema


Muilo elogiado pela crítica, "Gangster's Paradise: Jerusalema" é um filme sul-africano como Distrito 9, mas que trata mais a questão das gangues e criminalidade local. O longa foi dirigido pelo cultuado Ralph Ziman, que começou a carreira dirigindo video-clipes para o grupo Exposé ("Point Of No Return") e para a banda Faith No More ("Epic", "Falling To Pieces"). Depois ainda dirigiu dois ótimos trabalhos inéditos no Brasil: "Hearts & Minds" (96) e "The Zookeeper" (01).
Produzido em 2008, só agora "Gangster's Paradise" chega aos EUA. Sem previsão de lançamento no Brasil.

O Preço da Traição


David é um cinquentão inteligente, simpático e galanteador. Charmoso o suficiente para acender na sua esposa Catherine o terrível e devastador alerta do ciúme. Insegura em relação à fidelidade do marido, ela contrata os serviços da bela prostituta Chloe, que terá como missão testar a fidelidade de David.
Se você, literalmente, acha que já viu este filme antes, não estranhe. “Chloe” é refilmagem da produção francesa "Nathalie X", que Anne Fontaine co-escreveu e dirigiu em 2003. Nesta nova versão, saem Fanny Ardant, Gérard Depardieu e Emmanuell Béart, e entram, respectivamente, Julianne Moore, Liam Neeson e Amanda Seyfried (de "Mamma Mia" e "Garota Infernal).
Agora o roteiro é de Erin Cressida Wilson - também roteirista de "Secretária" (2002), mas os maiores méritos do filme não estão exatamente no roteiro, mas sim na direção sempre segura e elegante de Atom Egoyan.
Egípcio, de origem armênia, e radicado no Canadá, Egoyan é figurinha carimbada no circuito artístico, já tendo assinado os tristes e emocionantes "O Doce Amanhã" e "O Fio da Inocência", entre outros. "O Preço da Traição" é um trabalho mais palatável do cineasta, mais sintonizado com questões de mercado (mesmo porque os EUA estão entre os seus produtores, ao lado de França e Canadá), mas nem por isso de qualidade inferior.
Ainda que dentro de um registro estético bastante hollywoodiano - com locações suntuosas, iluminação majestosa, trilha sonora onipresente e direção de arte hiperbólica - “O Preço da Traição” consegue exibir a marca de Egoyan, onde prevalecem a reflexão, a introspecção, os poucos e elegantes movimentos de câmera, e principalmente a forma sem pressa de contar a história. Dirigido com dignidade, o filme prefere não se ater apenas à rasa questão da traição ou da não traição. Evitando o moralismo, ele vai além, e esmiúça com talento as dúvidas da protagonista, o medo do envelhecimento, a necessidade de ser aceita, e suas inseguranças humanas e sexuais, não apenas como esposa, mas também como amante e mãe. E com um detalhe: a personagem em questão é ginecologista, ou seja, teoricamente uma especialista nos corpos das mulheres. Mas que talvez necessite percorrer um longo caminho para entender a alma feminina, se é que ela é entendível. Ou seja, um personagem rico, verdadeiro arcabouço emocional sustentado com total eficiência por mais uma interpretação brilhante de Julianne Moore.
Ah, quando falarem sobre as cenas “polêmicas” de “O Preço da Traição”, não dê ouvidos: não há nada que já não tenha sido exibido na novela das oito. Os EUA ainda são o único país do mundo livre que se escandaliza com cenas de sexo suave bem dirigidas.
O detalhe triste do filme fica por conta de Liam Neeson, cuja esposa na vida real, Natasha Richardson, faleceu durante as filmagens. O cronograma da produção foi alterado para que Liam pudesse acompanhar o funeral e, mesmo assim, retornar ao set para os dois dias que lhe restavam para filmar.

Os Homens que Não Amavam as Mulheres


Num primeiro momento, a simples menção de que um filme é co-produzido por Suécia, Dinamarca, Alemanha e Noruega pode provocar no imaginário coletivo a ideia de que se trata de uma produção lenta, talvez fria, provavelmente arrastada. Se este for seu caso, pode deixar o preconceito de lado: “Os Homens que Não Amavam as Mulheres” é um drama policial investigativo com mais sabor de cinema americano que propriamente de europeu.
Baseado no best seller homônimo de Stieg Larsson, o filme tem como personagem principal o jornalista investigativo Mikael, contratado pelo poderoso magnata Henrik para uma missão, no mínimo, curiosa: descobrir o paradeiro de sua sobrinha Harriet, desaparecida, talvez morta, em 1966. O milionário tem razões para acreditar que foi alguém de sua própria família - cruel e numerosa - o causador do desaparecimento da (então) garota. Caberá a Mikael descobrir quem, como e por quê. Pelo caminho, o jornalista passará a contar com a colaboração da estranha e violenta Lisbeth, uma bela garota também com segredos a esconder.
Como entretenimento, “Os Homens que Não Amavam as Mulheres” funciona. Há um certo clima de mistério sublinhado pelas gélidas e nebulosas paisagens suecas. Há um subtexto intrigante que remonta ao nazismo da Segunda Guerra, embora alguns momentos de violência sexual cheguem a perturbar.
Para apreciar melhor o filme, porém, é preciso fazer vistas grossas em alguns momentos, e baixar um pouquinho a bola do senso crítico: incomoda um pouco, por exemplo, a total facilidade com que os investigadores encontram registros policiais fartamente disponíveis (e em perfeito estado de conservação) de casos ocorridos há meio século. Mas são detalhes. Provavelmente os arquivos policiais suecos sejam bem mais organizados e limpos que os nossos. De uma maneira geral, são duas horas e meia que fluem com facilidade.
O roteiro bebe nos clichês do gênero policial sacramentado pelo cinema americano, com direito a uma dupla improvável de protagonistas/antagonistas que acabam se aproximando no final, quantidades industriais de informações disponíveis pela internet em rápidos segundos, e flash backs explicativos de comportamentos doentios. Há até uma rápida perseguição automobilística no final... mas bem rápida... São cânones que aproximam esta produção europeia dos desgastados padrões norte-americanos, com leves delizes aqui e ali, mas sem se render totalmente ao puramente convencional. Ou seja: um filme com pretensões comerciais, sim, mas sem perder a dignidade narrativa.
Curiosidade: o autor do livro, assim, como o personagem principal do filme, também é um jornalista dono de uma revista, processado por um empresário.

sábado, 1 de maio de 2010

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Utopia e Barbarie

Silvio Tendler tentou fazer um filme por quase 20 anos. E no final admitiu, no texto do próprio filme, que “Utopia e Barbárie” é um trabalho não “inacabado, mas sim inacabável”. Um trabalho onde não cabe o ponto final, mas sim reticências. E nem poderia ser diferente. Afinal, “Utopia e Barbárie” é um documentário de fôlego - muito fôlego - que se propõe a montar um painel histórico-didático-sócio-político-cultural das utopias e das barbáries que o mundo conheceu desde o final da Segunda Guerra até os dias de hoje.
A boa notícia é que Tendler não apenas se propôs a montar o tal painel, como também conseguiu. E bem! “Utopia e Barbárie” é uma verdadeira aula que deveria entrar para o currículo de toda escola.
Quem viu “Os Anos JK” e “Jango”, do mesmo diretor, sabe que Tendler opta pela clareza da narrativa dos fatos que se propõe a aprofundar. Sem medo de ser feliz, nem de usar texto em off. Fãs de documentários mais experimentais talvez possam até achar “Utopia e Barbárie” esteticamente conservador. Ou televisivo, palavrinha que muitos confundem com palavrão. Mas é inegável o talento do filme em costurar com ritmo, nitidez e poder de concisão as dezenas de fatos utópicos e bárbaros que rasgaram a face do Planeta nos últimos 60 e poucos anos.
“Utopia e Barbárie” percorreu 15 países: França, Itália, Espanha, Canadá, EUA, Cuba, Vietnã, Israel, Palestina, Argentina, Chile, México, Uruguai, Venezuela e, claro, Brasil. Em cada um desses lugares, Tendler documentou os protagonistas e testemunhas da História. Incluindo intelectuais, filósofos, teatrólogos, cineastas, escritores, jornalistas, militantes, historiadores, e economistas, além de testemunhas e vítimas desses mesmos episódios históricos. Com inacreditável serenidade, uma sobrevivente de Hiroshima narra, por exemplo, como as imagens que ela viu se assemelham a cenas que ela considera ter vindo diretamente do Inferno. Pura barbárie. Com poesia, o escritor Eduardo Galeano fala que o direito de sonhar é “o papai e a mamãe” de todos os outros direitos, pois é ele quem alimenta os demais. Pura utopia. Ao ser questionado sobre vários cadáveres enterrados numa mesma gaveta de túmulo, Pinochet sorri e diz: “Que baita economia, hein?!”. Mais barbárie impossível. É sobre esta terrível dicotomia que o documentário se desenrola.
O texto e o pensamento de Tendler, no filme, são interpretados pelos atores Letícia Spiller e Chico Diaz e pelo dramaturgo Amir Haddad. O próprio Tendler - hoje com 60 anos - também toma a saudável liberdade de se incluir na trama. Na pesquisa, ele é simultaneamente agente e objeto.
O resultado é um filme de coração aberto, que consegue o distanciamento histórico necessário para a análise dos fatos, ao mesmo tempo em que não abre mão de uma postura afetiva assinada tanto pelo autor como pelos seus entrevistados. Ou seja, um filme utópico e bárbaro, sim... pero sin perder la ternura, jamás.

O Desaparecimento de Alice Creed


sexta-feira, 16 de abril de 2010

Cyrus


John (John C. Reilly) divorciou-se recentemente, mas conhece a mulher dos seus sonhos, Molly (Marisa Tomei), e ambos vêm um futuro feliz para ambos. Mas quando John conhece Cyrus (Jonah Hill),o filho de Molly, percebe que as coisas já não vão correr como ele imaginava.

Scott Pilgrim contra O Mundo




Do diretor de Todo Mundo Quase Morto e Chumbo Grosso, vem a comédia de ação que parodia o mundo dos games e dos super-heróis: Scott Pilgrim contra O Mundo. Michael Cera interpreta um nerd que se apaixona por uma super-heroína (Mary Elizabeth Winstead) e precisa enfrentar a fúria (e os poderes) dos sete ex-super namorados dela.

No elenco também aparecem Chris Evans, Kieran Culkin, Anne Kendrick, Brandon Routh e Jason Schwartzman

A estética é única...

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Ponyo



Cannes 2010

Noite de Abertura:
Robin Hood - Dir: Ridley Scott

Competição:
A Screaming Man - Dir: Mahamat-Saleh Haroun
Another Year - Dir: Mike Leigh
Biutiful - Dir: Alejandro González Iñárritu
Burnt by the Sun 2 - Dir: Nikita Mikhalkov
Certified Copy - Dir: Abbas Kiarostami
Fair Game - Dir: Doug Liman
Housemaid - Dir: Im Sang-soo
La Nostra Vita - Dir: Daniele Luchetti
Of Gods and Men - Dir: Xavier Beauvois
Outrage - Dir: Takeshi Kitano
Outside the Law - Dir: Rachid Bouchareb
Poetry - Dir: Lee Chang-dong
The Princess of Montpensier - Dir: Bertrand Tavernier
Tournée - Dir: Mathieu Amalric
Uncle Boonmee - Dir: Apichatpong Weerasethakul
You, My Joy - Dir: Sergei Loznitsa

Um Certo Olhar:
Adrienn Pál - Dir: Ágnes Kocsis
Angelica - Dir: Manoel de Oliveira
Aurora - Dir: Cristi Puiu
Blue Valentine - Dir: Derek Cianfrance
Chatroom - Dir: Hideo Nakata
Chongqing Blues - Dir: Xiaoshuai Wang
The City Below - Dir: Christoph Hochhäusler
Hahaha - Dir: Hong Sang-soo
Heartbeats - Dir: Xavier Dolan
Life Above All - Dir: Oliver Schmitz
The Lips - Dir: Iván Fund & Santiago Loza
Octubre - Dir: Daniel Vega
R U There - Dir: David Verbeek
Rebecca H. (Return to the Dogs) - Dir: Lodge Kerrigan
Simon Werner Disappeared… - Dir: Fabrice Gobert
Socialisme - Dir: Jean-Luc Godard
Tuesday, After Christmas - Dir: Radu Muntean
Udaan - Dir: Vikramaditya Motwane

Fora da Competição:
Tamara Drewe - Dir: Stephen Frears
Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme - Dir: Oliver Stone
You Will Meet a Tall Dark Stranger - Dir: Woody Allen

Exibições Especiais:
Abel - Dir: Diego Luna
Chantrapas - Dir: Otar Iosseliani
Draquila: L'Italia Che Trema - Dir: Sabina Guzzanti
Inside Job - Dir: Charles Ferguson
Nostalgia For The Light - Dir: Patricio Guzmán
Over Your Cities Grass Will Grow - Dir: Sophie Fiennes
Blackhole - Dir: Gilles Marchand
Kaboom - Dir: Gregg Araki

terça-feira, 13 de abril de 2010

Olhos Azuis



Suspense não é exatamente um gênero cinematográfico tradicional no cinema brasileiro. E por aqui, quando se fala em Polícia, logo o tema é associado a favelas ou cárceres. Assim, é mais do que bem-vinda a estreia do premiado “Olhos Azuis”, produção brasileira que mescla elementos de suspense, drama e policial sem cair na facilidade dos desgastados clichês que permeiam estes três gêneros.
O bom roteiro assinado por Melanie Dimantas e Paulo Halm enfoca o protagonista Marshall (vivido pelo norte-americano David Rasche) em três tempos bem diferentes na sua vida: (1) em seu último dia como policial de imigração de um aeroporto dos EUA, antes de se aposentar; (2) preso numa penitenciária e (3) embriagado vagando pelas praias brasileiras. Os primeiros minutos do filme não sinalizam em qual ordem cronológica poderiam ter acontecido estes três momentos. A narrativa é entrecortada, embaralha os tempos, atraindo desta forma rapidamente a atenção e a curiosidade da plateia, que é convidada a montar o seu quebra-cabeças dramatúrgico.
Aos poucos, novos personagens vão se agregando, e rapidamente a situação ambientada na terrível sala de imigração do aeroporto - um verdadeiro purgatório onde se decide quem vai para o Céu ou para o Inferno - vai ganhando mais força e se agigantando dentro do filme. Num ambiente claustrofóbico semelhante ao obtido por Giuseppe Tornatore em “Uma Simples Formalidade” (1994), o diretor José Joffily (o mesmo de “Quem Matou Pixote” e “Dois Perdidos numa Noite Suja”) cria com muita eficiência um clima de forte tensão, onde gradativamente se destilam os mais arraigados sentimentos de ódio, culpa e preconceito.
Apenas uma frágil divisória de vidro, com persianas mais frágeis ainda, separa a força policial norte-americana dos “cucarachas” ansiosos por entrar na tão decantada América. É um tênue “muro de Berlim” de vidro e compensado que simboliza um imenso fosso cultural e social. Ao lado de Rasche, os atores Frank Grillo (no papel de Bob), Erika Gimpel (Sandra) e principalmente Irandhir Santos (Nonato) brilham como coadjuvantes de primeira linha.
No outro tempo fílmico, Marshall aparece despido de sua carapuça policialesca, decadente e carcomido pelos caminhos do “inferno” para onde desceu: as belas praias do nordeste brasileiro, através das quais é ciceroneado por Bia (Cristina Lago), o sempre enigmático personagem da prostituta de bom coração.
Desencontradas no tempo e no espaço, as linhas narrativas se encaminham com competência para a solução final que - se não é exatamente surpreendente - tem o mérito de carregar consigo uma vigorosa discussão sobre as diferenças históricas e aparentemente irreconciliáveis que separam as civilizações dominantes das dominadas.
Um belo trabalho de Joffily, forte e corajoso, que foi o grande vencedor do II Festival Paulínia de Cinema com seis prêmios, incluindo o principal, de Melhor Filme.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O Ultimo Mestre Do Ar


Elenco: Noah Ringer, Nicole Peltz, Jackson Rathbone, Dev Patel, Aasif Mandvi, Shaun Toub, Cliff Curtis.
Direção: M. Night Shyamalan
Gênero: Aventura
Duração: --- min.
Distribuidora: Paramount Pictures
Estreia: 23 de Julho de 2010
Sinopse: Há muito tempo atrás, o mundo era dividido em quatro grupos: Nação do Fogo, Tribo da Água, Reino da Terra e Nômades do Ar. Essas nações viviam em perfeito equilíbrio, até o dia em que a Nação do Fogo atacou. O Avatar, mestre dos quatro elementos, é o responsável por manter o equilíbrio do mundo e quando o mundo mais precisou, ele desapareceu. Cem anos após esse acontecimento, dois jovens da tribo da água do sul encontram o avatar, um habilidoso dominador de ar chamado Aang.
Curiosidades:
» Trata-se da adaptação cinematográfica do desenho 'Avatar: A Lenda de Aang' (Avatar: The Last Airbender), que Shyamalan trabalha há dois anos para tirar do papel.

Toy Story 3


Get Him To The Greek


Get Him To The Greek [EUA, 2010], de Nicholas Stoller (Universal). Gênero: comédia. Elenco: Jonah Hill, Russel Brand. Sinopse: Um funcionário de uma gravadora é contratado para acompanhar um astro do rock britânico fora de controle em um show no Greek Theater de Los Angeles. Estréia Nacional: 10/09/2010

Logorama


INDICADOS AO OSCAR DE MELHOR CURTA ANIMADO:
Logorama de Nicolas Schmerkin - EUA - 16 minutos

A Matter Of Loaf And Death


INDICADOS AO OSCAR DE MELHOR CURTA ANIMADO:
Wallace & Gromit: A Matter Of Loaf And Death de Nick Park - Inglaterra - 30 minutos (trailer)

The Lady and The Reaper


INDICADOS AO OSCAR DE MELHOR CURTA ANIMADO:
The Lady and The Reaper de Javier Recio Gracia - Espanha - 8 minutos

Granny O' Grimm's Sleeping Beauty


INDICADOS AO OSCAR DE MELHOR CURTA ANIMADO:
Granny O' Grimm's Sleeping Beauty de Nicky Phelan - Irlanda - 6 minutos

French Roast


INDICADOS AO OSCAR DE MELHOR CURTA ANIMADO:

French Roast de Fabrice Joubert - França - 8 minutos

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Vocês, Os Vivos


A esquisitíssima obra-prima de Roy Andersson
Érico Borgo /Omelete
Com 57 vinhetas divididas ao longo de 94 minutos, o cineasta Roy Andersson deixa sua pegada no tapete vermelho da Sétima Arte. Seu longa Vocês, Os Vivos (You, The Living) é o tipo de filme que os cinéfilos querem ver. É filme que choca, que critica, mas que faz rir - e pensar. É o tipo de filme, também, que reanima as papilas gustativas da mente, amortecidas por tanta bobagem. Depois de Andersson, que sustenta suas excentricidades fílmicas com dinheiro de direção de comerciais, estou pronto para encarar mais uma centena de filmes ruins sem risco de emburrecer.
O cineasta não é suiço, é sueco, mas seu filminhos passam pela tela com precisão de relojoeiro. São em sua maioria planos-seqüência (sem cortes) com monólogos ou diálogos absurdos, muitas vezes embaraçosos. Tudo perfeitamente coordenado e enquadrado com uma câmera fixa, quase sempre a partir de um plano levemente elevado. Os cálculos de Andersson nos forçam a olhar o quadro inteiro - não é só no primeiro plano que acontece a ação, e por trás de toda porta ou toda janela há uma banalidade a ser notada. É como se o diretor fosse uma espécie de deus, afastado, observando seus "vivos", que eventualmente dirigem-se a ele em ambientes desbotados onde a graça (do filme) surge da absoluta falta de graça (do espaço).
Todos os personagens dessas cenas curtas são caricatos e a maquiagem exagerada, pálida, ajuda a dar esse efeito. Eles trafegam pelo mundo com insegurança, feito mortos-vivos, e se escondem pelos cantos como fantasmas. Sempre em busca de seus objetivos e incapazes de virar a cabeça. Ninguém entende ninguém, afinal, como uma senhora gorda punk faz questão de gritar para o namorado (e todo o bar) ouvir. Essa frase, aliás, dá o tom de todo o filme... Coitado do sujeito que tentava, totalmente deslocado, animar uma festinha. Seu truque de salão acabou por colocá-lo na cadeira elétrica. É que "as louças tinham mais de 200 anos"... como ele iria saber? E como os donos da louça saberiam das melhores intenções do sujeito? E que diabos são aquelas referências à Segunda Guerra?
Cada pequena cena se sustenta sozinha, mas aos poucos algumas historinhas começam a surgir. Não que elas sejam necessárias - o que importa aqui é o que o diretor denomina como o "trivialismo", pequenas ocorrências que pontuam a tragicomédia humana.
A ausência de sentido de Vocês, Os Vivos faz todo o sentido aqui.

Beijo Na Boca, Não!



Comédia musical de 2003 de Alain Resnais enfim estréia no Brasil
Marcelo Hessel /Omelete
O cineasta francês Alain Resnais (Medos Privados em Lugares Públicos) não filmava há seis anos, quando lançou Pas sur la Bouche em 2003. Apesar do hiato, há uma relação direta com seu filme anterior, Amores Parisienses (1997), que por sua vez se liga a La Vie est un Roman, de 1983. São as comédias musicais de Resnais, em que os personagens dialogam com o espectador e, via metalinguagem, o cineasta presta homenagem ao gênero.
Pas sur la Bouche finalmente estréia no Brasil, com o título Beijo na boca, não!. A história se inspira em uma opereta de 1925 escrita por André Barde e Maurice Yvain, e a metalinguagem fica evidente já no começo, quando o empregado da mansão parisiense dos Valandray, Faradel (Daniel Prévost), consegue se livrar de três belas jovens, biconas que estavam comendo todo o chá da tarde - depois da primeira canção do filme, em que as convence a pegar uma liquidação nas Galerias Lafayette, ele vira para a câmera e solta: "Pronto, conseguimos nos livrar do coro".
E começa a trama, com ecos das comédias de costume shakespeareanas e das screwball comedies de Hollywood. O casal Gilberte (Sabine Azéma) e Georges Valandray (Pierre Arditi) está para receber um rico empresário estadunidense, mas Georges mal suspeita que o gringo, Eric Thomson (Lambert Wilson), foi o primeiro marido de sua esposa. Enquanto Gilberte se desespera com a iminência do encontro, outros casais se desencontram no vaivém da mansão, entre flertes e números musicais.
Não se trata de um musical clássico, com coreografias produzidíssimas. Tirando uma música coletiva que envolve um bailado de espelhos e colunas, o filme de Resnais é mais uma cantoria encenada com atenção a gestuais, movimentos de câmera e cortes sofisticados. O grande chamariz, porém, são as cores. Desde os filtros de lente até a decoracão kitsch, passando pelo brilho de jóias e porcelanas, tudo remete aos grandes musicais em cores dos anos 40 da MGM - e na cena em que os personagens entram na vila é impossível não atentar para os tons no cenário típicos do Technicolor.
A certa altura, o personagem metido a artista de vanguarda mostra aos convidados da mansão seu número de "arte total" - exposição misturada com música. Resnais tira sarro dessas megalomanias sensoriais. Diretor de clássicos inovadores da linguagem como Hiroshima, Meu Amor e Ano Passado em Marienbad, o francês hoje se permite fazer filmes despretensiosos com seus atores mais próximos, como Pierre Arditi e Sabine Azéma. Ícone de uma geração cinefílica e crítica que soube valorizar os filmes hollywoodianos mais comerciais dos anos 40 e 50, hoje celebra os filmes daquela época à sua moda - e particularmente dá a Lambert Wilson um personagem de sotaque inglês impagável.
O mais importante é que Resnais não descuida da encenação: ângulos e planos são escolhidos com rigor, mas sem exibicionismo. Beijo na boca, não! prescinde do supérfluo e agrada justamente porque sabe muito bem onde quer chegar.