Silvio Tendler tentou fazer um filme por quase 20 anos. E no final admitiu, no texto do próprio filme, que “Utopia e Barbárie” é um trabalho não “inacabado, mas sim inacabável”. Um trabalho onde não cabe o ponto final, mas sim reticências. E nem poderia ser diferente. Afinal, “Utopia e Barbárie” é um documentário de fôlego - muito fôlego - que se propõe a montar um painel histórico-didático-sócio-político-cultural das utopias e das barbáries que o mundo conheceu desde o final da Segunda Guerra até os dias de hoje.
A boa notícia é que Tendler não apenas se propôs a montar o tal painel, como também conseguiu. E bem! “Utopia e Barbárie” é uma verdadeira aula que deveria entrar para o currículo de toda escola.
Quem viu “Os Anos JK” e “Jango”, do mesmo diretor, sabe que Tendler opta pela clareza da narrativa dos fatos que se propõe a aprofundar. Sem medo de ser feliz, nem de usar texto em off. Fãs de documentários mais experimentais talvez possam até achar “Utopia e Barbárie” esteticamente conservador. Ou televisivo, palavrinha que muitos confundem com palavrão. Mas é inegável o talento do filme em costurar com ritmo, nitidez e poder de concisão as dezenas de fatos utópicos e bárbaros que rasgaram a face do Planeta nos últimos 60 e poucos anos.
“Utopia e Barbárie” percorreu 15 países: França, Itália, Espanha, Canadá, EUA, Cuba, Vietnã, Israel, Palestina, Argentina, Chile, México, Uruguai, Venezuela e, claro, Brasil. Em cada um desses lugares, Tendler documentou os protagonistas e testemunhas da História. Incluindo intelectuais, filósofos, teatrólogos, cineastas, escritores, jornalistas, militantes, historiadores, e economistas, além de testemunhas e vítimas desses mesmos episódios históricos. Com inacreditável serenidade, uma sobrevivente de Hiroshima narra, por exemplo, como as imagens que ela viu se assemelham a cenas que ela considera ter vindo diretamente do Inferno. Pura barbárie. Com poesia, o escritor Eduardo Galeano fala que o direito de sonhar é “o papai e a mamãe” de todos os outros direitos, pois é ele quem alimenta os demais. Pura utopia. Ao ser questionado sobre vários cadáveres enterrados numa mesma gaveta de túmulo, Pinochet sorri e diz: “Que baita economia, hein?!”. Mais barbárie impossível. É sobre esta terrível dicotomia que o documentário se desenrola.
O texto e o pensamento de Tendler, no filme, são interpretados pelos atores Letícia Spiller e Chico Diaz e pelo dramaturgo Amir Haddad. O próprio Tendler - hoje com 60 anos - também toma a saudável liberdade de se incluir na trama. Na pesquisa, ele é simultaneamente agente e objeto.
O resultado é um filme de coração aberto, que consegue o distanciamento histórico necessário para a análise dos fatos, ao mesmo tempo em que não abre mão de uma postura afetiva assinada tanto pelo autor como pelos seus entrevistados. Ou seja, um filme utópico e bárbaro, sim... pero sin perder la ternura, jamás.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Cyrus
Scott Pilgrim contra O Mundo

Do diretor de Todo Mundo Quase Morto e Chumbo Grosso, vem a comédia de ação que parodia o mundo dos games e dos super-heróis: Scott Pilgrim contra O Mundo. Michael Cera interpreta um nerd que se apaixona por uma super-heroína (Mary Elizabeth Winstead) e precisa enfrentar a fúria (e os poderes) dos sete ex-super namorados dela.
No elenco também aparecem Chris Evans, Kieran Culkin, Anne Kendrick, Brandon Routh e Jason Schwartzman
A estética é única...
Marcadores:
10,
comédia,
Michael Cera,
prévia,
Visto
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Cannes 2010
Noite de Abertura:
Robin Hood - Dir: Ridley Scott
Competição:
A Screaming Man - Dir: Mahamat-Saleh Haroun
Another Year - Dir: Mike Leigh
Biutiful - Dir: Alejandro González Iñárritu
Burnt by the Sun 2 - Dir: Nikita Mikhalkov
Certified Copy - Dir: Abbas Kiarostami
Fair Game - Dir: Doug Liman
Housemaid - Dir: Im Sang-soo
La Nostra Vita - Dir: Daniele Luchetti
Of Gods and Men - Dir: Xavier Beauvois
Outrage - Dir: Takeshi Kitano
Outside the Law - Dir: Rachid Bouchareb
Poetry - Dir: Lee Chang-dong
The Princess of Montpensier - Dir: Bertrand Tavernier
Tournée - Dir: Mathieu Amalric
Uncle Boonmee - Dir: Apichatpong Weerasethakul
You, My Joy - Dir: Sergei Loznitsa
Um Certo Olhar:
Adrienn Pál - Dir: Ágnes Kocsis
Angelica - Dir: Manoel de Oliveira
Aurora - Dir: Cristi Puiu
Blue Valentine - Dir: Derek Cianfrance
Chatroom - Dir: Hideo Nakata
Chongqing Blues - Dir: Xiaoshuai Wang
The City Below - Dir: Christoph Hochhäusler
Hahaha - Dir: Hong Sang-soo
Heartbeats - Dir: Xavier Dolan
Life Above All - Dir: Oliver Schmitz
The Lips - Dir: Iván Fund & Santiago Loza
Octubre - Dir: Daniel Vega
R U There - Dir: David Verbeek
Rebecca H. (Return to the Dogs) - Dir: Lodge Kerrigan
Simon Werner Disappeared… - Dir: Fabrice Gobert
Socialisme - Dir: Jean-Luc Godard
Tuesday, After Christmas - Dir: Radu Muntean
Udaan - Dir: Vikramaditya Motwane
Fora da Competição:
Tamara Drewe - Dir: Stephen Frears
Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme - Dir: Oliver Stone
You Will Meet a Tall Dark Stranger - Dir: Woody Allen
Exibições Especiais:
Abel - Dir: Diego Luna
Chantrapas - Dir: Otar Iosseliani
Draquila: L'Italia Che Trema - Dir: Sabina Guzzanti
Inside Job - Dir: Charles Ferguson
Nostalgia For The Light - Dir: Patricio Guzmán
Over Your Cities Grass Will Grow - Dir: Sophie Fiennes
Blackhole - Dir: Gilles Marchand
Kaboom - Dir: Gregg Araki
Robin Hood - Dir: Ridley Scott
Competição:
A Screaming Man - Dir: Mahamat-Saleh Haroun
Another Year - Dir: Mike Leigh
Biutiful - Dir: Alejandro González Iñárritu
Burnt by the Sun 2 - Dir: Nikita Mikhalkov
Certified Copy - Dir: Abbas Kiarostami
Fair Game - Dir: Doug Liman
Housemaid - Dir: Im Sang-soo
La Nostra Vita - Dir: Daniele Luchetti
Of Gods and Men - Dir: Xavier Beauvois
Outrage - Dir: Takeshi Kitano
Outside the Law - Dir: Rachid Bouchareb
Poetry - Dir: Lee Chang-dong
The Princess of Montpensier - Dir: Bertrand Tavernier
Tournée - Dir: Mathieu Amalric
Uncle Boonmee - Dir: Apichatpong Weerasethakul
You, My Joy - Dir: Sergei Loznitsa
Um Certo Olhar:
Adrienn Pál - Dir: Ágnes Kocsis
Angelica - Dir: Manoel de Oliveira
Aurora - Dir: Cristi Puiu
Blue Valentine - Dir: Derek Cianfrance
Chatroom - Dir: Hideo Nakata
Chongqing Blues - Dir: Xiaoshuai Wang
The City Below - Dir: Christoph Hochhäusler
Hahaha - Dir: Hong Sang-soo
Heartbeats - Dir: Xavier Dolan
Life Above All - Dir: Oliver Schmitz
The Lips - Dir: Iván Fund & Santiago Loza
Octubre - Dir: Daniel Vega
R U There - Dir: David Verbeek
Rebecca H. (Return to the Dogs) - Dir: Lodge Kerrigan
Simon Werner Disappeared… - Dir: Fabrice Gobert
Socialisme - Dir: Jean-Luc Godard
Tuesday, After Christmas - Dir: Radu Muntean
Udaan - Dir: Vikramaditya Motwane
Fora da Competição:
Tamara Drewe - Dir: Stephen Frears
Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme - Dir: Oliver Stone
You Will Meet a Tall Dark Stranger - Dir: Woody Allen
Exibições Especiais:
Abel - Dir: Diego Luna
Chantrapas - Dir: Otar Iosseliani
Draquila: L'Italia Che Trema - Dir: Sabina Guzzanti
Inside Job - Dir: Charles Ferguson
Nostalgia For The Light - Dir: Patricio Guzmán
Over Your Cities Grass Will Grow - Dir: Sophie Fiennes
Blackhole - Dir: Gilles Marchand
Kaboom - Dir: Gregg Araki
terça-feira, 13 de abril de 2010
Olhos Azuis

Suspense não é exatamente um gênero cinematográfico tradicional no cinema brasileiro. E por aqui, quando se fala em Polícia, logo o tema é associado a favelas ou cárceres. Assim, é mais do que bem-vinda a estreia do premiado “Olhos Azuis”, produção brasileira que mescla elementos de suspense, drama e policial sem cair na facilidade dos desgastados clichês que permeiam estes três gêneros.
O bom roteiro assinado por Melanie Dimantas e Paulo Halm enfoca o protagonista Marshall (vivido pelo norte-americano David Rasche) em três tempos bem diferentes na sua vida: (1) em seu último dia como policial de imigração de um aeroporto dos EUA, antes de se aposentar; (2) preso numa penitenciária e (3) embriagado vagando pelas praias brasileiras. Os primeiros minutos do filme não sinalizam em qual ordem cronológica poderiam ter acontecido estes três momentos. A narrativa é entrecortada, embaralha os tempos, atraindo desta forma rapidamente a atenção e a curiosidade da plateia, que é convidada a montar o seu quebra-cabeças dramatúrgico.
Aos poucos, novos personagens vão se agregando, e rapidamente a situação ambientada na terrível sala de imigração do aeroporto - um verdadeiro purgatório onde se decide quem vai para o Céu ou para o Inferno - vai ganhando mais força e se agigantando dentro do filme. Num ambiente claustrofóbico semelhante ao obtido por Giuseppe Tornatore em “Uma Simples Formalidade” (1994), o diretor José Joffily (o mesmo de “Quem Matou Pixote” e “Dois Perdidos numa Noite Suja”) cria com muita eficiência um clima de forte tensão, onde gradativamente se destilam os mais arraigados sentimentos de ódio, culpa e preconceito.
Apenas uma frágil divisória de vidro, com persianas mais frágeis ainda, separa a força policial norte-americana dos “cucarachas” ansiosos por entrar na tão decantada América. É um tênue “muro de Berlim” de vidro e compensado que simboliza um imenso fosso cultural e social. Ao lado de Rasche, os atores Frank Grillo (no papel de Bob), Erika Gimpel (Sandra) e principalmente Irandhir Santos (Nonato) brilham como coadjuvantes de primeira linha.
No outro tempo fílmico, Marshall aparece despido de sua carapuça policialesca, decadente e carcomido pelos caminhos do “inferno” para onde desceu: as belas praias do nordeste brasileiro, através das quais é ciceroneado por Bia (Cristina Lago), o sempre enigmático personagem da prostituta de bom coração.
Desencontradas no tempo e no espaço, as linhas narrativas se encaminham com competência para a solução final que - se não é exatamente surpreendente - tem o mérito de carregar consigo uma vigorosa discussão sobre as diferenças históricas e aparentemente irreconciliáveis que separam as civilizações dominantes das dominadas.
Um belo trabalho de Joffily, forte e corajoso, que foi o grande vencedor do II Festival Paulínia de Cinema com seis prêmios, incluindo o principal, de Melhor Filme.
Assinar:
Postagens (Atom)